terça-feira, 31 de março de 2020
COMODIDADE
Num dia comum
de horas comuns
atividades comuns
idas e voltas comuns
de repente
como nada
como tudo
como sempre
a irrealidade
inviabiliza
incomoda
a comodidade
que nos esconde
incomuns pessoas
deslocadas
desfocadas
desesperadas
pelo retorno
comunitário.
(Pedro Du Bois, inédito)
domingo, 29 de março de 2020
CHORO
Era a propaganda
com seus feitos
:aumentadas estrelas
avistadas através
dos telescópios
o melhor dos mundos
coordenado pela
maior inteligência
há o momento
em que sozinho
o pensamento
recai na solidão
e a verdade aflora
a insignificância
de alguém que chora.
(Pedro Du Bois, inédito)
sexta-feira, 27 de março de 2020
DISTÂNCIAS
Distantes nos tornamos
menos críticos
na visão panorâmica
de amplos ângulos
em todas as curvas
na distância somos
meros pontos contra
a linha do horizonte
o distanciamento poupa
a vida nos sentimentos
resguardados no que
não podemos ver
distantes lembranças
abrandam a saudade
guardada nos corpos
aproximados.
(Pedro Du Bois, inédito)
quarta-feira, 25 de março de 2020
FICAR
Se os previdentes ficam
se os correntes não vão
se os amorosos acampam
se os medrosos se escondem
só os oportunos veem o futuro
deles somos o resultado
em burgueses acomodados
infelizes diante das vitrinas
tristes figuras viajando férias
dos que foram buscar novos
mundos de desconhecidas
sensações não tivemos
notícias nem foram
semeando caminhos
poucos estão na estrada
e deles fugimos na lembrança
de que não fomos.
(Pedro Du Bois, inédito)
segunda-feira, 23 de março de 2020
DESCAMINHO
Por onde sigo
descaminho
em passos rápidos
no trajeto curto
descaminho
de longa caminhada
na chegada não prevista
descaminho
apresso (mais) os passos
por onde passo
descaminho
sei do fracasso
do regresso
para onde vou
descaminho
sei que não haverá
chegada.
(Pedro Du Bois, inédito)
sábado, 21 de março de 2020
TANTO
Tanto ordenamos
condenados
tanto mudamos
isolados
tanto buscamos
escondidos
tanto queremos
desesperados
o tonto não percebe
as oportunidades
brinca em ameaças
tanto da vida perdida
indo atrás do vento
e do vulto fugidio
das imagens
tanto sonhamos
acordados.
(Pedro Du Bois, inédito)
quinta-feira, 19 de março de 2020
HISTÓRIA
Em voz baixa me contam a história
fatos e atos realizados e acontecidos
na vergonha de tempos de escuros
simulacros: a chuva bate contra
a vidraça e a água escorre vidas
perdidas em batalhas sangrentas
onde o ódio e a ganância alternam
os ataques: nossos irmãos fogem
para outras terras cujos donos
não os recebem simpaticamente
presos aos poderes maléficos
mantemos abaixadas as cabeças
e o orgulho escondido na vergonha
de sermos explorados e ludibriados
no medo que nos devora a mente
vozes mínimas repetem o texto oral
que do passado não há réplica
sobre o que nos contam: fomos
sempre assim e ainda somos
pois a raiva cedeu lugar
ao impassível rosto: nenhuma
fibra vibra onde não há mistério.
(Pedro Du Bois, inédito)
terça-feira, 17 de março de 2020
CALENDÁRIO
Altero o calendário
retiro os dias ruins
onde encontraria você
igual como no começo
desmereço os dias
passados como foice
sobre o campo: como dias
desconsiderados deixados
na estrada para que sigam
seus caminhos que não são
os meus: dias alternados entre
sua presença ausência
e o esquecimento.
(Pedro Du Bois, inédito)
domingo, 15 de março de 2020
MENTIMOS
Mentimos dizendo sermos poucos
somos muitos e estamos presentes
desde sempre
nossa natureza
nossa maneira
nosso gênese
avançamos como conquistadores
protetores insinuados
ladrões camuflados
insuflamos exércitos em nosso benefício
calamos multidões em divisões e trocas
fazemos sofrer o irmão no que nos toca
mentimos nesta pouca idade
o pão e a carne conseguidos
no esforço da pilhagem.
(Pedro Du Bois, inédito)
sexta-feira, 13 de março de 2020
VOLTAR
Na embriaguez do momento
o vento refresca o sentimento
de que estamos de volta
e tudo permanece
a nossa volta móveis familiares
transmitem histórias conhecidas
do que deixamos quando cansados
do que buscamos quando cansados
do que lembramos quando retornamos
na embriaguez do instante
o vulto se destaca e o sorriso
apaga o cansaço.
(Pedro Du Bois, inédito)
segunda-feira, 9 de março de 2020
INDEPENDÊNCIA
Momentaneamente fora de combate
o cansaço me faz refém
das horas vagas
vago mundo repleto de trabalhos
a ordem em progresso positiva a raça
em genéticos ascendentes depurados
depressa volto à ativa
tantos procuram o meu lugar
o cansaço vence o corpo
e a alma dorme dobrada
na escrivaninha atrás
da cortina de fumaça
não foi este o combate
que me pediram no início.
(Pedro Du Bois, inédito)
sábado, 7 de março de 2020
CONTAS
À porta aporta
o cobrador de contas
fazendo de conta
que irei pagar
apago o débito
esqueço a conta
não há condições
estou descondicionado
na desconsideração
da conta apresentada
em recontada história
o credor das contas
repassa o prejuízo
aos que pagam.
(Pedro Du Bois, inédito)
quinta-feira, 5 de março de 2020
REPARTIR
Repartiremos o saque e sua parte igual
esconderá na bolsa em que levará
ouro prata quinquilharias e moedas
para satisfazer a vida por pouco tempo
outro saque programado armado os dentes
serão expostos em forças e terrores
quando do assalto e o salto se apresentará
no telhado entre janelas além das portas
repartiremos o saque e sua parte menor
será entregue sem solenidade ou festa
aos seus que por aqui ficaram
não participará de novos saques ou assaltos
e no escuro do caixão repousará sua carcaça
onde o sangue do inimigo não respingará
e o medo da chegada estará guardado.
(Pedro Du Bois, inédito)
terça-feira, 3 de março de 2020
FIM
senhores de todos os males
seguimos tortuosos caminhos
de convencimentos autoritários
somos os primeiros
os melhores
os mais fortes
os mais rápidos
temos o mecanismo do poder
somos o poder personalizado
senhores dos males avançamos
pela terra e na água refrescamos
nossos reatores
temos o começo e o fim do começo
somos o fim.
(Pedro Du Bois, inédito)
segunda-feira, 2 de março de 2020
domingo, 1 de março de 2020
VINGANÇA
Toda vingança comporta a loucura exposta
em sua face - branca/escura a face da morte?
exige premeditação e raiva e ira e coragem
para se tornar o covarde que ataca
pelas costas na hora da saída de casa
- seria a casa a nossa fortaleza?
e no grito estreito o sangue ferve
olhos turvos de lembranças o tiro atinge
- seria o corpo responsável pelo ataque?
o corpo na calçada pela promessa feita
e cumprida diante de outro corpo caído
em calçada diversa e igual onde matam
- seriam as calçadas iguais nas mortes?
inocentes na prática do ato insano como
enlouquecidos são os gestos de amor
perdidos em vinganças torpes
- seria branca/escura a hora da vingança?
(Pedro Du Bois, inédito)