Recordo as vozes
perto
bebida barata
sorriso barato
farto
vozes enchem a noite
ouvidos poucos
total atenção
lamento
bebida forte
sorriso farto
barato
vozes caladas
luzes apagadas
copos retirados
trôpegos passos
e a voz pastosa
repete o canto.
(Pedro Du Bois, inédito)
terça-feira, 31 de dezembro de 2019
domingo, 29 de dezembro de 2019
ECO
Não há eco no passado
reverberações quem sabe
o som desloca ares
desmancha montanhas
sepulta histórias
arqueólogo preocupados
devassam a memória
levam ao museu
a cabalística prova
do amor sepultado.
(Pedro Du Bois, inédito)
reverberações quem sabe
o som desloca ares
desmancha montanhas
sepulta histórias
arqueólogo preocupados
devassam a memória
levam ao museu
a cabalística prova
do amor sepultado.
(Pedro Du Bois, inédito)
sexta-feira, 27 de dezembro de 2019
PRESUMIR
A presunção identifica
os erros cometidos
ao julgar o próximo
com os conceitos
que carregamos
a presunção indica o erro
por não considerarmos
temos o culpado
e basta.
(Pedro Du Bois, inédito)
os erros cometidos
ao julgar o próximo
com os conceitos
que carregamos
a presunção indica o erro
por não considerarmos
temos o culpado
e basta.
(Pedro Du Bois, inédito)
quarta-feira, 25 de dezembro de 2019
CAIXAS
Ficamos extasiados
diante da caixa fechada
toda caixa fechada
traduz nossa ansiedade
traz a desconfiança
para a consciência
nenhuma caixa
é apenas uma caixa
será uma caixa apenas
depois de ser aberta
enquanto fechada é imã
que nos trai e nos leva
por caminhos imaginários.
(Pedro Du Bois, inédito)
diante da caixa fechada
toda caixa fechada
traduz nossa ansiedade
traz a desconfiança
para a consciência
nenhuma caixa
é apenas uma caixa
será uma caixa apenas
depois de ser aberta
enquanto fechada é imã
que nos trai e nos leva
por caminhos imaginários.
(Pedro Du Bois, inédito)
segunda-feira, 23 de dezembro de 2019
ÂMBAR
Nós
conservados
- âmbar planeta
aqui presos
para sempre
viscosos seres
eternizados
em que nos repetimos
e nos transformamos
desconhecidos
em sucessivas
gerações.
(Pedro Du Bois, inédito)
conservados
- âmbar planeta
aqui presos
para sempre
viscosos seres
eternizados
em que nos repetimos
e nos transformamos
desconhecidos
em sucessivas
gerações.
(Pedro Du Bois, inédito)
sábado, 21 de dezembro de 2019
PRESENÇA
Senhor estou presente
para o que fui chamado
a prestar este serviço
servil
meu senhor
espreito
espio
aguardo
suas ordens
rápidos boletins
a tinta suja a folha
a mão suja a falha
a voz ordena antigas
cantigas populares
estou presente senhor
presença marcada
rápida passagem
sobre o campo
avança a praga
a pressa
a presa escapa
senhor.
(Pedro Du Bois, inédito)
para o que fui chamado
a prestar este serviço
servil
meu senhor
espreito
espio
aguardo
suas ordens
rápidos boletins
a tinta suja a folha
a mão suja a falha
a voz ordena antigas
cantigas populares
estou presente senhor
presença marcada
rápida passagem
sobre o campo
avança a praga
a pressa
a presa escapa
senhor.
(Pedro Du Bois, inédito)
quinta-feira, 19 de dezembro de 2019
UNS E OUTROS
Uns retratam seus povos
outros os escondem
uns descrevem seus povos
outros os sonegam
uns cantam seus povos
outros os calam
uns contam seus povos
outros os mentem
uns prometem aos seus povos
outros não cumprem.
(Pedro Du Bois, inédito)
outros os escondem
uns descrevem seus povos
outros os sonegam
uns cantam seus povos
outros os calam
uns contam seus povos
outros os mentem
uns prometem aos seus povos
outros não cumprem.
(Pedro Du Bois, inédito)
terça-feira, 17 de dezembro de 2019
REIS e PRÍNCIPES
Seriam os reis os primeiros
afinal
seriam reis
reais interesses
real sobraria a pose
e o porte
(não o porte de armas
nada real)
reis seriam os primeiros
a serem desarmados
e deixariam os uniformes
casacas
condecorações
(rainhas deixariam os chapéus)
plebeus todos e novamente
esperaríamos no horizonte
surgir o próximo príncipe
cavaleiro.
(Pedro Du Bois, inédito)
afinal
seriam reis
reais interesses
real sobraria a pose
e o porte
(não o porte de armas
nada real)
reis seriam os primeiros
a serem desarmados
e deixariam os uniformes
casacas
condecorações
(rainhas deixariam os chapéus)
plebeus todos e novamente
esperaríamos no horizonte
surgir o próximo príncipe
cavaleiro.
(Pedro Du Bois, inédito)
domingo, 15 de dezembro de 2019
DEPOIS
Depois
a raiva
avoluma
a ira
extravasa
momento em que
na linha do horizonte
o primeiro cavaleiro
a besta em você
sabe a hora
do encontro
depois
a ira avoluma
a raiva extravasa
o horizonte
é fechado.
(Pedro Du Bois, inédito)
a raiva
avoluma
a ira
extravasa
momento em que
na linha do horizonte
o primeiro cavaleiro
a besta em você
sabe a hora
do encontro
depois
a ira avoluma
a raiva extravasa
o horizonte
é fechado.
(Pedro Du Bois, inédito)
sexta-feira, 13 de dezembro de 2019
BILHETE
Fria alma desdenhada rabiscos
ilegíveis rasurados papéis
sob a porta prova de amor
perdidamente amor paixão
e dor onde o coração bate
olhos baixos - sempre baixos
os olhos - ao passar cruzar
atravessar caminhos ravinas
pavimentadas poeiras outros
pés descalços encalço procura
busca a mão do abismo alívio
no toque resposta não chegada
partida partido coração
envergonhado em palavras
canções desencantadas
vozes altas baixos olhos
braços pendentes dentes
serrilham a boca na ausência.
(Pedro Du Bois, inédito)
ilegíveis rasurados papéis
sob a porta prova de amor
perdidamente amor paixão
e dor onde o coração bate
olhos baixos - sempre baixos
os olhos - ao passar cruzar
atravessar caminhos ravinas
pavimentadas poeiras outros
pés descalços encalço procura
busca a mão do abismo alívio
no toque resposta não chegada
partida partido coração
envergonhado em palavras
canções desencantadas
vozes altas baixos olhos
braços pendentes dentes
serrilham a boca na ausência.
(Pedro Du Bois, inédito)
quarta-feira, 11 de dezembro de 2019
DESTINO
Não tive melhor destino
preso em mim
pelo tempo
pela farsa
por tantas frases
ditas na hora errada
em que verbos fáceis
e adjetivos correntes
traziam na idade
a esperança futura
fechado enclausurado
acorrentado em medos
perdi o vento que transporta
a idade e adultera os atos
na mesquinhez dos retratos
de imagens desgastadas
na rapidez da pose: falsidade
com que me colocava ao lado.
(Pedro Du Bois, inédito)
preso em mim
pelo tempo
pela farsa
por tantas frases
ditas na hora errada
em que verbos fáceis
e adjetivos correntes
traziam na idade
a esperança futura
fechado enclausurado
acorrentado em medos
perdi o vento que transporta
a idade e adultera os atos
na mesquinhez dos retratos
de imagens desgastadas
na rapidez da pose: falsidade
com que me colocava ao lado.
(Pedro Du Bois, inédito)
segunda-feira, 9 de dezembro de 2019
CULTURA
Do recado
sombra no regaço
regato
de águas claras
e limpas
da mensagem
luz na palavra
verbo
de transitivo fim
e limpo
das sobras após o ataque
no barbarismo praticado
pelos de sempre
e sujos
do que ouvi dos passos
no grito com que o corpo
foi atingido
e sujo.
(Pedro Du Bois, inédito)
sombra no regaço
regato
de águas claras
e limpas
da mensagem
luz na palavra
verbo
de transitivo fim
e limpo
das sobras após o ataque
no barbarismo praticado
pelos de sempre
e sujos
do que ouvi dos passos
no grito com que o corpo
foi atingido
e sujo.
(Pedro Du Bois, inédito)
sábado, 7 de dezembro de 2019
CONDICIONANTES
Seria o último
a encontrar a resposta
certa sobre os aspectos
principais do que procurava
seria a última
visão do todo
resgatado nos fragmentos
trazidos pelo vendo
seria o último
estertor do pensamento
crítico sobre o começo
em relação ao firmamento
seria a última
esperança sobre a vida
ressurgida na claridade
em cegados olhos.
(Pedro Du Bois, inédito)
a encontrar a resposta
certa sobre os aspectos
principais do que procurava
seria a última
visão do todo
resgatado nos fragmentos
trazidos pelo vendo
seria o último
estertor do pensamento
crítico sobre o começo
em relação ao firmamento
seria a última
esperança sobre a vida
ressurgida na claridade
em cegados olhos.
(Pedro Du Bois, inédito)
quinta-feira, 5 de dezembro de 2019
REPRESENTAÇÃO
Após o espetáculo
entra pelos fundos
palco escuro
plateia vazia
escuros camarins
reacende as luzes
inicia o trabalho
desfaz a sujeira
limpa
varre
lava
espana
passa o pano
no palco
para
(glória)
olha a plateia
vazia
curva o corpo
em agradecimento.
(Pedro Du Bois, inédito)
entra pelos fundos
palco escuro
plateia vazia
escuros camarins
reacende as luzes
inicia o trabalho
desfaz a sujeira
limpa
varre
lava
espana
passa o pano
no palco
para
(glória)
olha a plateia
vazia
curva o corpo
em agradecimento.
(Pedro Du Bois, inédito)
terça-feira, 3 de dezembro de 2019
MONSTROS
E os outros monstros
pergunta a menina?
Nenhum virá me
fazer companhia?
Algum deles
brincará comigo?
Nem a bruxa
nem a princesa
nem o monstro-sem-cabeça?
Esses monstros são fracos.
Não assustam a menina
que precisa de monstros
fortes para suas emoções.
(Pedro Du Bois, inédito)
pergunta a menina?
Nenhum virá me
fazer companhia?
Algum deles
brincará comigo?
Nem a bruxa
nem a princesa
nem o monstro-sem-cabeça?
Esses monstros são fracos.
Não assustam a menina
que precisa de monstros
fortes para suas emoções.
(Pedro Du Bois, inédito)
segunda-feira, 2 de dezembro de 2019
domingo, 1 de dezembro de 2019
CONHECER E TER
Conheceu o sucesso conheceu o progresso
teve o fracasso teve o regresso
conheceu o amanhã conheceu o futuro
teve o ontem teve o passado
conheceu o amor conheceu a paixão
teve o desamor teve o ódio
conheceu a noite conheceu a vida
teve o dia teve a morte
conheceu a amizade conheceu a bondade
teve a inimizade teve a maldade
conheceu o horizonte conheceu a liberdade
teve o muro teve a prisão
conheceu o destino conheceu o caminho
teve o desatino teve o descaminho
conheceu você conheceu você
teve o que foi seu teve o que foi dela.
(Pedro Du Bois, inédito)
teve o fracasso teve o regresso
conheceu o amanhã conheceu o futuro
teve o ontem teve o passado
conheceu o amor conheceu a paixão
teve o desamor teve o ódio
conheceu a noite conheceu a vida
teve o dia teve a morte
conheceu a amizade conheceu a bondade
teve a inimizade teve a maldade
conheceu o horizonte conheceu a liberdade
teve o muro teve a prisão
conheceu o destino conheceu o caminho
teve o desatino teve o descaminho
conheceu você conheceu você
teve o que foi seu teve o que foi dela.
(Pedro Du Bois, inédito)
sexta-feira, 29 de novembro de 2019
IMPORTÂNCIA
Penso na importância
dada aos fatos
(agora) irrelevantes
lembrados momentos
decisivos: risíveis
agora
- água turva da sujeira
entornada ao poço -
restada importância
pela mediocridade
na vida diária
das miudezas
que dão sentido.
(Pedro Du Bois, inédito)
dada aos fatos
(agora) irrelevantes
lembrados momentos
decisivos: risíveis
agora
- água turva da sujeira
entornada ao poço -
restada importância
pela mediocridade
na vida diária
das miudezas
que dão sentido.
(Pedro Du Bois, inédito)
quarta-feira, 27 de novembro de 2019
REIS
Aos reis os palácios
cabem como luvas
em dedos frágeis
loucos somos nós
que nos contraímos
pelas esquinas
como reféns
dos carros
que passam
dentro dos carros
os reis e as luvas
- seus palácios
o sinal em vermelho
faz parar os carros
e os reis escondem
seus rostos
o refém deixa a esquina
e atravessa.
(Pedro Du Bois, inédito)
cabem como luvas
em dedos frágeis
loucos somos nós
que nos contraímos
pelas esquinas
como reféns
dos carros
que passam
dentro dos carros
os reis e as luvas
- seus palácios
o sinal em vermelho
faz parar os carros
e os reis escondem
seus rostos
o refém deixa a esquina
e atravessa.
(Pedro Du Bois, inédito)
segunda-feira, 25 de novembro de 2019
REAPRESENTAÇÕES
Tudo o mais
transformado
em (in)verdades
poucos recursos cênicos
parcas mágicas
indigentes palavras
a mentira representa
a (sua) verdade
a que estamos
acostumados.
(Pedro Du Bois, inédito)
transformado
em (in)verdades
poucos recursos cênicos
parcas mágicas
indigentes palavras
a mentira representa
a (sua) verdade
a que estamos
acostumados.
(Pedro Du Bois, inédito)
sábado, 23 de novembro de 2019
FUNERAL
Esses olhos
viram a continuidade
em avessa
dança estática
na imobilidade aérea
esses olhos
veem o começo
no que lembram
do espaço imenso
fechado em ares
esses olhos
nada mais verão
na reversa história
recontada em pedaços.
(Pedro Du Bois, inédito)
viram a continuidade
em avessa
dança estática
na imobilidade aérea
esses olhos
veem o começo
no que lembram
do espaço imenso
fechado em ares
esses olhos
nada mais verão
na reversa história
recontada em pedaços.
(Pedro Du Bois, inédito)
quinta-feira, 21 de novembro de 2019
DIÁRIO
De todos os espíritos a luz concedida aos poucos
anima as sombras entre árvores Parreira frutificada
Novos líquidos Sensações indizíveis Saudações
Por tudo que for tomado o território será o trunfo
maior por sua inteireza pela cobiça dos vizinhos
pelas mulheres dos homens que foram embora
para as guerras Líquido encorpado no que ocupa
a cama Espírito redivivo das conquistas Honras
Ao guerreiro a vitória interessa Prêmio Castigo
Castigada mente em questões menores O espírito
ilumina o corpo presente na reprodução A bebida
transborda o cálice Corpos embriagados de maridos
traídos Foram para a guerra
defender suas pátrias
A ressaca adoece os olhos Morte Suas mulheres
nas batalhas diárias Filhos secos Parreiras.
(Pedro Du Bois, inédito)
terça-feira, 19 de novembro de 2019
NOVO
Traz o novo na fragmentação
do velho
na demonstração
do pecado
na transfiguração
do repetido
no deslocamento
do justo
na delicadeza
do detalhe
na junção
dos opostos
no criminoso choro
com os olhos de sempre
não é novo quem traz
o velho desfigurado.
(Pedro Du Bois, inédito)
do velho
na demonstração
do pecado
na transfiguração
do repetido
no deslocamento
do justo
na delicadeza
do detalhe
na junção
dos opostos
no criminoso choro
com os olhos de sempre
não é novo quem traz
o velho desfigurado.
(Pedro Du Bois, inédito)
domingo, 17 de novembro de 2019
SOBRA
Não está aqui
local vazio de sombras
representantes do atraso
a pira arde o óleo
e o pano bandeira
de novos tempos
(sombras por onde andam?)
não estão aqui
sombras sem locais
câmaras frias de flores congeladas
amores a serem encontrados
consomem o óleo e o pano
tornam rotas as bandeiras
no esconder a sombra
no que sobra: amizade.
(Pedro Du Bois, inédito)
local vazio de sombras
representantes do atraso
a pira arde o óleo
e o pano bandeira
de novos tempos
(sombras por onde andam?)
não estão aqui
sombras sem locais
câmaras frias de flores congeladas
amores a serem encontrados
consomem o óleo e o pano
tornam rotas as bandeiras
no esconder a sombra
no que sobra: amizade.
(Pedro Du Bois, inédito)
sexta-feira, 15 de novembro de 2019
UTILITARISMO
Caminho percorrido
mentalmente reabro
a caixa de brinquedos
longínqua infância
revivida
embrulhado em papel de seda
escondido em papel jornal
no que sobrou do saco de pipocas
o novo
esquecido desde o começo.
(Pedro Du Bois, inédito)
mentalmente reabro
a caixa de brinquedos
longínqua infância
revivida
embrulhado em papel de seda
escondido em papel jornal
no que sobrou do saco de pipocas
o novo
esquecido desde o começo.
(Pedro Du Bois, inédito)
quarta-feira, 13 de novembro de 2019
CRIME
Com o pedaço de papel
limpa cuidadosamente
o sangue no assento
acende o fósforo
queima o papel
ensanguentado
junta as cinzas
sobre outra folha
imaculada de papel
mistura as cinzas ao leite
- mistura bem as cinzas ao leite
bebe devagar o conteúdo
do copo - sem pressa -
na última refeição do dia
a primeira da nova vida
na culpa que acompanhará
seu corpo e mente.
(Pedro Du Bois, inédito)
limpa cuidadosamente
o sangue no assento
acende o fósforo
queima o papel
ensanguentado
junta as cinzas
sobre outra folha
imaculada de papel
mistura as cinzas ao leite
- mistura bem as cinzas ao leite
bebe devagar o conteúdo
do copo - sem pressa -
na última refeição do dia
a primeira da nova vida
na culpa que acompanhará
seu corpo e mente.
(Pedro Du Bois, inédito)
segunda-feira, 11 de novembro de 2019
ULTRAPASSAGEM
Sou quem me ultrapasso
tinha você pelo braço
no perdido corpo
de outros abraços
ultrapassados
ciente do destino no sinal fugidio
avanço e retorno e falo ao guarda:
não há outro caminho
na espera da atropelada hora
sou quem me ultrapasso
e exausto repouso o corpo
na soleira que acolhe e esconde
o cansaço em que me encontro
silenciosamente escorrego os pés e o barro
marca a passagem ultrapassada no medo
trazido de casa: hoje é meu dia de
passar.
(Pedro Du Bois, inédito)
sábado, 9 de novembro de 2019
BEIJO
O beijo na falsa imagem
dos sonhos sobre a mesa
em negociação barata
pedras e pedras jogadas
no rio impedem a passagem
a barragem o barco e as pedras
trancam a vida em paisagens
aquáticas de espíritos afogados
eternizados deuses desesperados
buscam suas redentoras mortes
de poucos anos e promessas
forçam pedras em avalanches
capazes de ruírem muros
e reintegrarem águas à paisagem
no beijo da amada: molhados lábios
em sua boca na sensação das águas
em que a vida segue o espaço.
(Pedro Du Bois, inédito)
quinta-feira, 7 de novembro de 2019
TERRAS
até aqui o país geográfico
em terras de donos infindáveis
no nada arado e o gado ausente
das decisões em cartórios
depois outro país geográfico
de linguajar diferente
e costumes acostumados
em terras que não pertencem
deixadas para os parentes
além da geografia a terra
que tem outros donos
proprietários multiplicados
de fronteiras em que soldados
perseguem prendem e matam
além de tudo não há nada
que possa ser desocupado.
(Pedro Du Bois, inédito)
terça-feira, 5 de novembro de 2019
PASSEIOS
dias passeiam entre músicas
cantores embalam insetos
em esvoaçantes ventiladores
o coro repete o refrão
a piedade refaz a oração
em solteiras intenções
tardes recolhidas no desfazer
a comida e lavar a louça
descansado das loucas noites
anunciadas em gritos
o copo vazio de ontem
iguala as apresentações
bisonhas de arcos e flechas
que ferem secos amuletos
dias pensados em músicas
na tarde em atrasos.
(Pedro Du Bois, inédito)
segunda-feira, 4 de novembro de 2019
domingo, 3 de novembro de 2019
NOITE
Na
noite repleta de escuros cantos
a luz
espanta os corpos que se encontram
em
conversas antigas de muitos anos
lances
sorrateiros e o apito do guarda
que o
medo retira a vontade
de
serem encontrados
no
irrealizado verão
de
luzes e noites quentes
fossem
escuros cantos
onde continuassem
anônimos
e o
vento levasse os papéis
não
seria a noite o receptáculo
de
legumes e verduras chegados
à mesa
de quem dorme
não se
fazem negócios enquanto a noite
esconde
os clarões humanos: agenciada
em vidas
e mortes descoloridas.
(Pedro Du Bois, inédito)
quinta-feira, 31 de outubro de 2019
ALÉM
Além: no relógio estático na parede
o som mostra a sala na passagem
do
tempo em renovadas vidas
mortes disfarçadas no esquecimento
sem as badaladas e o tique-taque
nos
passos amiudados: na refrega
esfrega o que o armário guarda
sob a
mesa repousa os pés
do
andar continuado em anos
aguarda a chegada das conquistas
e o
perdão estendido viaja e retorna
grudado ao corpo e nos olhos baços
de quem pouco escuta do exterior
os sinais do relógio estratificam o quando
terminado em vozes na oração de sempre.(Pedro Du Bois, inédito)
domingo, 27 de outubro de 2019
DEPOIS
Retirarão a pintura
descolorindo
o por do sol
morros acinzentados
em verdes desbotados
silencioso
sem sapatos
ficarei à janela
para ver o dia
ir embora
não um
ou outro dia:
sensação
de que a noite
sem estrelas
se eternizará.
(Pedro Du Bois, inédito)
descolorindo
o por do sol
morros acinzentados
em verdes desbotados
silencioso
sem sapatos
ficarei à janela
para ver o dia
ir embora
não um
ou outro dia:
sensação
de que a noite
sem estrelas
se eternizará.
(Pedro Du Bois, inédito)
sexta-feira, 25 de outubro de 2019
INIMIGO
Porque se fizeram inimigos
não terão meu afeto
nem minha indiferença
não cantarei minhas músicas
nem lerei seus textos
não comerão da minha comida
nem me terão em regresso
não estarão comigo
nem me terão por perto
não me verão na amurada da ponte
nem serei a companhia na travessia
porque se fizeram inimigos
terão meu esquecimento
em meu silêncio.
(Pedro Du Bois, inédito)
não terão meu afeto
nem minha indiferença
não cantarei minhas músicas
nem lerei seus textos
não comerão da minha comida
nem me terão em regresso
não estarão comigo
nem me terão por perto
não me verão na amurada da ponte
nem serei a companhia na travessia
porque se fizeram inimigos
terão meu esquecimento
em meu silêncio.
(Pedro Du Bois, inédito)
quarta-feira, 23 de outubro de 2019
COMPROMISSO
Meu compromisso
presente em gotas
no amanhecer
frio compromisso
com gelos pendentes
em queimadas gramas
(no entanto)
estou ciente
da promessa
feita
em lágrimas
não orvalhadas
na fria madrugada
água nos olhos
escorrida pelo rosto
triste e compenetrado
apaixonado.
(Pedro Du Bois, inédito)
segunda-feira, 21 de outubro de 2019
TARDIAMENTE
Tarde demais para perceber
que a construção fecha a paisagem
e sonhos se restringem à janelas
abertas na passagem dos corpos
que invadem o ambiente na escuridão
que a noite aproxima os corpos
caídos na cama em embaraços
de tediosas horas em que sonhos
fecham os olhos para a realidade
vida vista com atraso burocrático
vias extras para as reclamatórias
que o barulho da construção: pás e picaretas
pedreiros eletricistas hidráulicos corações
acompanham o andamento das obras
tardiamente com as paredes erguidas.
(Pedro Du Bois, inédito)
que a construção fecha a paisagem
e sonhos se restringem à janelas
abertas na passagem dos corpos
que invadem o ambiente na escuridão
que a noite aproxima os corpos
caídos na cama em embaraços
de tediosas horas em que sonhos
fecham os olhos para a realidade
vida vista com atraso burocrático
vias extras para as reclamatórias
que o barulho da construção: pás e picaretas
pedreiros eletricistas hidráulicos corações
acompanham o andamento das obras
tardiamente com as paredes erguidas.
(Pedro Du Bois, inédito)
sábado, 19 de outubro de 2019
REVIVER
No fundo do poço seco de antes águas
descia a caçamba na corda suspensa
voltando com a água de todo dia
brota a planta na nesga da boca
recomeçada vida depois de seco
o velho poço diriam todos
os que votaram o aterramento
tijolos e cimento rodeiam
paredes na falsa noção da espiral
e bichos peçonhentos subindo
e descendo na multiplicação
da vida no mesmo buraco
no escuro do fundo do poço
seco de águas passadas
nem corda e caçamba
nem a imagem refletida
a vida renova o espaço
na umidade exalada
pelo broto da planta
agora sepultada.
(Pedro Du Bois, inédito)
descia a caçamba na corda suspensa
voltando com a água de todo dia
brota a planta na nesga da boca
recomeçada vida depois de seco
o velho poço diriam todos
os que votaram o aterramento
tijolos e cimento rodeiam
paredes na falsa noção da espiral
e bichos peçonhentos subindo
e descendo na multiplicação
da vida no mesmo buraco
no escuro do fundo do poço
seco de águas passadas
nem corda e caçamba
nem a imagem refletida
a vida renova o espaço
na umidade exalada
pelo broto da planta
agora sepultada.
(Pedro Du Bois, inédito)
quinta-feira, 17 de outubro de 2019
SILÊNCIO
Largo corredor com lâmpadas acesas:
caminha o trajeto em passos lentos
largo e lento corredor caminhado
não completar
não chegar
ficar junto à janela
até apagarem as luzes
os olhos se acostumam na escuridão:
distingue no branco da cena
o medo na mão que treme
o vazio do espaço encoberto
pela vidraça a janela mostra
o mundo em seu lado de fora
ficar até cessar o mundo
através do vidro embaçado:
o dentro e o fora completados
em silêncio.
(Pedro Du Bois, inédito)
caminha o trajeto em passos lentos
largo e lento corredor caminhado
não completar
não chegar
ficar junto à janela
até apagarem as luzes
os olhos se acostumam na escuridão:
distingue no branco da cena
o medo na mão que treme
o vazio do espaço encoberto
pela vidraça a janela mostra
o mundo em seu lado de fora
ficar até cessar o mundo
através do vidro embaçado:
o dentro e o fora completados
em silêncio.
(Pedro Du Bois, inédito)
terça-feira, 15 de outubro de 2019
URBANIZAÇÃO
Campesino urbanizado
pela força tecnológica
triste pessoa busca o passado
em ruas inexistentes
antes estradas oferecessem
caminhos diversos
opções de transporte
trouxessem a mesma direção
fosse a urbe o destino correto
na chegada precedida por arautos
mesa farta e cadeiras confortáveis
nem em sonhos a vida se apresenta
o campesino não é mais campesino
seu campo agora é outro continente
e a luz parca da chegada
foi apagada.
(Pedro Du Bois, inédito)
pela força tecnológica
triste pessoa busca o passado
em ruas inexistentes
antes estradas oferecessem
caminhos diversos
opções de transporte
trouxessem a mesma direção
fosse a urbe o destino correto
na chegada precedida por arautos
mesa farta e cadeiras confortáveis
nem em sonhos a vida se apresenta
o campesino não é mais campesino
seu campo agora é outro continente
e a luz parca da chegada
foi apagada.
(Pedro Du Bois, inédito)
segunda-feira, 14 de outubro de 2019
domingo, 13 de outubro de 2019
CUMPRIMENTOS
Golpes
desgovernam
estados
estratificados
revoluções
reiniciam
estados
em outros
princípios
democraticamente
sistemas políticos
barganham votos
no final da fila
nós sempre
esperamos.
(Pedro Du Bois, inédito)
desgovernam
estados
estratificados
revoluções
reiniciam
estados
em outros
princípios
democraticamente
sistemas políticos
barganham votos
no final da fila
nós sempre
esperamos.
(Pedro Du Bois, inédito)
sexta-feira, 11 de outubro de 2019
CONFINS
Confinados
neste planeta
não errante
de horas repetidas
em estações repetidas
com ciclos repetidos
dos dias bissextos
conseguimos ficar
afastados
hostis
desconfiados
beligerantes
a morte vence a razão
e corpos são decompostos
em poucas lágrimas.
(Pedro Du Bois, inédito)
neste planeta
não errante
de horas repetidas
em estações repetidas
com ciclos repetidos
dos dias bissextos
conseguimos ficar
afastados
hostis
desconfiados
beligerantes
a morte vence a razão
e corpos são decompostos
em poucas lágrimas.
(Pedro Du Bois, inédito)
quarta-feira, 9 de outubro de 2019
DIA ANTERIOR
O dia anterior
(exílio)
esconde a memória
antes que seja apagada
a força
escurece o horizonte
e em branco e preto
avista o último lampejo
a hora some em nuvens
sem raios e relâmpagos
no dia anterior que antecede
a lembrança sobre os atos.
(Pedro Du Bois, inédito)
(exílio)
esconde a memória
antes que seja apagada
a força
escurece o horizonte
e em branco e preto
avista o último lampejo
a hora some em nuvens
sem raios e relâmpagos
no dia anterior que antecede
a lembrança sobre os atos.
(Pedro Du Bois, inédito)
segunda-feira, 7 de outubro de 2019
ROTINA
Na passagem
o estreito caminho
de todos os dias
obstaculizado
na mediocridade
rotineira
no chuveiro com água quente
lava o cheiro do escritório
apaga o que a mente
trouxe de fora
fechados caminhos revistos
em cada ação decretada
pouco de amor e carinho
após encerrado o jantar.
(Pedro Du Bois, inédito)
o estreito caminho
de todos os dias
obstaculizado
na mediocridade
rotineira
no chuveiro com água quente
lava o cheiro do escritório
apaga o que a mente
trouxe de fora
fechados caminhos revistos
em cada ação decretada
pouco de amor e carinho
após encerrado o jantar.
(Pedro Du Bois, inédito)
domingo, 6 de outubro de 2019
sábado, 5 de outubro de 2019
ANTES
Um dia antes
deixarei o corpo descansar
na cama até a última hora
antes do banho farei a barba
usarei a melhor roupa
um dia antes
acordarei mais tarde
antes de levantar ficarei
com os olhos fechados
um dia antes
saberei chegar a hora da despedida
não estenderei a mão nem trocarei beijos
de longe acenarei aos transeuntes
um dia antes
ficarei estático na casa
até que o nada consuma em mim
o pouco que restará da passagem.
(Pedro Du Bois, inédito)
deixarei o corpo descansar
na cama até a última hora
antes do banho farei a barba
usarei a melhor roupa
um dia antes
acordarei mais tarde
antes de levantar ficarei
com os olhos fechados
um dia antes
saberei chegar a hora da despedida
não estenderei a mão nem trocarei beijos
de longe acenarei aos transeuntes
um dia antes
ficarei estático na casa
até que o nada consuma em mim
o pouco que restará da passagem.
(Pedro Du Bois, inédito)
quinta-feira, 3 de outubro de 2019
ESTRELAS
Os que virão após
estrelas novas
não nos trarão reforços
estrelas vazias
não nos trarão novas
estrelas escuras
não nos trarão notícias
estrelas ocas
não nos trarão vidas
estrelas mortas
os que virão depois
não nos trarão amor
estrelas frias
e sumirão nas luzes
dos primeiros sóis.
(Pedro Du Bois, inédito)
estrelas novas
não nos trarão reforços
estrelas vazias
não nos trarão novas
estrelas escuras
não nos trarão notícias
estrelas ocas
não nos trarão vidas
estrelas mortas
os que virão depois
não nos trarão amor
estrelas frias
e sumirão nas luzes
dos primeiros sóis.
(Pedro Du Bois, inédito)
terça-feira, 1 de outubro de 2019
FERAS
Meço a distância que me separa da fera
que sabe no distanciamento o medo
do que nos separa naquela hora
vou ao seu encontro e a fera recua
no primeiro instante: seu instinto
a faz recuperar a postura ferina
com que seus olhos brincam
em dentes brancos quando
o corpo ágil arremete
ao meu encontro
sei da sua força
agilidade
malícia
e do impacto do seu corpo
sobre a minha queda
seus dentes na minha carne
e suas garras dilaceram
não há distância entre a fera e eu
somos aos mesmo tempo único corpo
no chão rolado em sujeira e sangue
a fera me abestalha quando a humanizo
e com meu corpo estraçalhado assumo
seus olhos e são meus seus dentes
permaneço na fera em segunda pele
ela se debate querendo se livrar
do incômodo hóspede que a assume
com corpo e alma humanizados: duas
feras abestalhadas e soltas.
(Pedro Du Bois, inédito)
que sabe no distanciamento o medo
do que nos separa naquela hora
vou ao seu encontro e a fera recua
no primeiro instante: seu instinto
a faz recuperar a postura ferina
com que seus olhos brincam
em dentes brancos quando
o corpo ágil arremete
ao meu encontro
sei da sua força
agilidade
malícia
e do impacto do seu corpo
sobre a minha queda
seus dentes na minha carne
e suas garras dilaceram
não há distância entre a fera e eu
somos aos mesmo tempo único corpo
no chão rolado em sujeira e sangue
a fera me abestalha quando a humanizo
e com meu corpo estraçalhado assumo
seus olhos e são meus seus dentes
permaneço na fera em segunda pele
ela se debate querendo se livrar
do incômodo hóspede que a assume
com corpo e alma humanizados: duas
feras abestalhadas e soltas.
(Pedro Du Bois, inédito)
segunda-feira, 30 de setembro de 2019
A Revelação como Máscara e outros poemas
por W. J. Solha
Sobre A
REVELAÇÃO COMO MÁSCARA, do novo livro de Pedro Du Bois, O VENDEDOR DE CADEIRAS,
publicado pelo Projeto Passo Fundo.
A ilustração é um quadro meu, de que me lembrei ao ler isto, nessa parte da obra:
-
Gosto de usar na máscara o irrefletido:
a opacidade anteposta ao papel
desenhado no esboço e o gesso
na morbidez do rosto
condenado à decomposição.
-
OK.
Há anos acompanho a produção de Du Bois. E esta me parece banquete pra psicólogos, psicanalistas, psiquiatras e assemelhados, e pra críticos literários de melhor estirpe. Uma de minhas resenhas sobre obras anteriores do poeta gaúcho, teve – a propósito - o nome de ENIGMA DU BOIS, aqui bem mais denso, até, do que o ENTRE MOSCAS, do Everardo Norões, por que, na maioria das vezes, venceu-me. Como se fossem partes de um nouveau roman – que tinha foco nos objetos, não nos personagens – os três primeiros títulos desta edição constam como “O Vendedor de CADEIRAS”, “A Revelação como MÁSCARA”, “TUBO DENTIFRÍCIO”.
Veja que sacada:
-
Ao velarem os mortos
colocam cadeiras
junto ao caixão:
-
Corpos assentados
inclinam as mãos
sobre as bordas
os olhos choram o corpo
deitado
-
Nas outras partes do livro, tem-se achados como este:
-
TUBO DENTIFRÍCIO
-
Aprendo a escovar os dentes
antes que o almoço
me devore.
-
Mais em frente:
LEVIANA HISTÓRIA DE UM SE NHOR URBANO
-
Sonha em se tornar artista
sobre o fogo: retirar do coelho a ironia
da cartola.
-
deitado
-
Nas outras partes do livro, tem-se achados como este:
-
TUBO DENTIFRÍCIO
-
Aprendo a escovar os dentes
antes que o almoço
me devore.
-
Mais em frente:
LEVIANA HISTÓRIA DE UM SE NHOR URBANO
-
Sonha em se tornar artista
sobre o fogo: retirar do coelho a ironia
da cartola.
-
E,
como se – malevolamente – gozasse com meu novo livro – VIDA ABERTA
(Tratado
Poético-Filosófico ):
-
Entediado. O filósofo repete
em novas palavras a sua velhice.
-
E:
-
Simplifica em termos
eternizados o que não foi
dito.
-
OK.
Mas o centro do volume, parece-me, é a REVELAÇÃO COMO MÁSCARA, em que a gente pensa logo na fábula de Esopo, “A Raposa e a Máscara Trágica”, em que a zorra dá com esse assessório do teatro grego, deslumbra-se com sua beleza, mas se decepciona com o vazio atrás dela. Em seguida vamos direto à Psicologia Analítica de Carl Gustav Jung, ao Arquétipo Persona, onde se observa o sujeito com a possibilidade ou necessidade de criar personagens ( persona: máscara, em latim ) que podem não ter nada com ele mesmo: o papel público que o ser humano se sente forçado a apresentar.
Du Bois não é um poeta exatamente feliz com a condição humana, com as tais máscaras ou não:
-
Nem o vazio
Se revela. Nem a revelação se esvazia.
-
Ou:
-
Escondo a máscara sob outra máscara
-
E isto que se segue vai pra uma tácita angústia kafkiana , como em O PROCESSO:
-
Sobre a minha vida despejam culpas assumidas
em lágrimas de arrependimento. Não me dizem
o crime cometido.
-
OK, de novo. Porque triste, mesmo, são estes versos de SILENCIAR:
-
Entediado. O filósofo repete
em novas palavras a sua velhice.
-
E:
-
Simplifica em termos
eternizados o que não foi
dito.
-
OK.
Mas o centro do volume, parece-me, é a REVELAÇÃO COMO MÁSCARA, em que a gente pensa logo na fábula de Esopo, “A Raposa e a Máscara Trágica”, em que a zorra dá com esse assessório do teatro grego, deslumbra-se com sua beleza, mas se decepciona com o vazio atrás dela. Em seguida vamos direto à Psicologia Analítica de Carl Gustav Jung, ao Arquétipo Persona, onde se observa o sujeito com a possibilidade ou necessidade de criar personagens ( persona: máscara, em latim ) que podem não ter nada com ele mesmo: o papel público que o ser humano se sente forçado a apresentar.
Du Bois não é um poeta exatamente feliz com a condição humana, com as tais máscaras ou não:
-
Nem o vazio
Se revela. Nem a revelação se esvazia.
-
Ou:
-
Escondo a máscara sob outra máscara
-
E isto que se segue vai pra uma tácita angústia kafkiana , como em O PROCESSO:
-
Sobre a minha vida despejam culpas assumidas
em lágrimas de arrependimento. Não me dizem
o crime cometido.
-
OK, de novo. Porque triste, mesmo, são estes versos de SILENCIAR:
Dias
(são assim)
calados em tardios
anoiteceres.
-
Como eu disse, não se trata de prato cheio, mas de banquete para os estudiosos da mente humana, inclusive críticos literários do porte de um Hildeberto Barbosa Filho.
Fica a indicação.
calados em tardios
anoiteceres.
-
Como eu disse, não se trata de prato cheio, mas de banquete para os estudiosos da mente humana, inclusive críticos literários do porte de um Hildeberto Barbosa Filho.
Fica a indicação.
domingo, 29 de setembro de 2019
VIAGENS
Levamos nossas vidas mesquinhas
perambulamos nossos fantasmas
esquinas repetem
a sucessão do passado
em que as curvas escondem
o futuro em novas paisagens
lá
estamos
encaramujados.
(Pedro Du Bois, inédito)
perambulamos nossos fantasmas
esquinas repetem
a sucessão do passado
em que as curvas escondem
o futuro em novas paisagens
lá
estamos
encaramujados.
(Pedro Du Bois, inédito)
sexta-feira, 27 de setembro de 2019
MUDANÇAS
A mudança acompanha
a história: nada e glória
decadente companheira
na jornada que medeia
(já) sem entusiasmo
a metamorfose
completada nas asas
libertadas ao sol
que ilude a tarde
na decadência o retorno
com cabelos revoltos
de antigas ventanias
as mãos afastam
as tempestades
em que se transforma.
(Pedro Du Bois, inédito)
a história: nada e glória
decadente companheira
na jornada que medeia
(já) sem entusiasmo
a metamorfose
completada nas asas
libertadas ao sol
que ilude a tarde
na decadência o retorno
com cabelos revoltos
de antigas ventanias
as mãos afastam
as tempestades
em que se transforma.
(Pedro Du Bois, inédito)
quarta-feira, 25 de setembro de 2019
HERÓIS
O horror da guerra recontado
na mesa do bar: bravatas
e homéricas pilhérias
braço sobre o encosto
aproxima o corpo
e no ouvido estala
a língua o tiro de canhão
fuzila com os olhos o comentário
atrevido e revida o ataque
com perfídia: emudece
a plateia na simulação
do estampido
o braço aperta o corpo
ao lado: fosse o inimigo
subjugado no golpe
em que a lâmina rasga
o pescoço repassado
com experiência e glória
detém o amigo que se despede
ao ir embora: sugere nova
rodada mesmo que em outro
local: ainda é hora
sozinho
o desalento invade
seu corpo e alma: os olhos
tentam apagar o passado.
(Pedro Du Bois, inédito)
na mesa do bar: bravatas
e homéricas pilhérias
braço sobre o encosto
aproxima o corpo
e no ouvido estala
a língua o tiro de canhão
fuzila com os olhos o comentário
atrevido e revida o ataque
com perfídia: emudece
a plateia na simulação
do estampido
o braço aperta o corpo
ao lado: fosse o inimigo
subjugado no golpe
em que a lâmina rasga
o pescoço repassado
com experiência e glória
detém o amigo que se despede
ao ir embora: sugere nova
rodada mesmo que em outro
local: ainda é hora
sozinho
o desalento invade
seu corpo e alma: os olhos
tentam apagar o passado.
(Pedro Du Bois, inédito)
segunda-feira, 23 de setembro de 2019
FERIDA
A ferida sangra o corpo atingido
o sangue escorre o passado
esconde a mágoa do amor findo
no amoroso corpo desprezado
a ferida sangra a dor recolhida
o sangue corre na veia atingida
escolhe a raiva no amor atraiçoado
em amoroso sentido vilipendiado
a ferida sangra o espírito refletido
o sangue recorda o louco estampido
recolhe o amor no corpo abandonado
em amoroso recorte rasgado.
(Pedro Du Bois, inédito)
o sangue escorre o passado
esconde a mágoa do amor findo
no amoroso corpo desprezado
a ferida sangra a dor recolhida
o sangue corre na veia atingida
escolhe a raiva no amor atraiçoado
em amoroso sentido vilipendiado
a ferida sangra o espírito refletido
o sangue recorda o louco estampido
recolhe o amor no corpo abandonado
em amoroso recorte rasgado.
(Pedro Du Bois, inédito)
domingo, 22 de setembro de 2019
sábado, 21 de setembro de 2019
DESFRUTE
Em desconexo sentido
a figura sem concretude
sobe pela parede
foge em desconcerto
traz o mundo no jornal
cortado e colado ao solo
na delimitação do espaço
despertada angústia
na figura desconsertada
que se rebela ao espaço
em canções aventuradas
despudorado futuro
rarefeito em desculpas.
(Pedro Du Bois, inédito)
a figura sem concretude
sobe pela parede
foge em desconcerto
traz o mundo no jornal
cortado e colado ao solo
na delimitação do espaço
despertada angústia
na figura desconsertada
que se rebela ao espaço
em canções aventuradas
despudorado futuro
rarefeito em desculpas.
(Pedro Du Bois, inédito)
quinta-feira, 19 de setembro de 2019
DESCOBERTA
De outras terras disseram os aventureiros
descreveram paisagens
disseram dos nativos
insinuaram o ouro
e a prata
que poderiam encontrar
trouxeram selvícolas para agradar a corte
trouxeram o tabaco a ser fumado
trouxeram o cacau a ser torrado
não trouxeram doenças que lá não havia
não trouxeram ratos que lá não existiam
não trouxeram sonhos que lá não sonhavam
levaram as doenças os ratos os sonhos
conquistaram: tornaram-se senhores
exterminaram os povos
exauriram os metais
chamaram de novo mundo.
(Pedro Du Bois, inédito)
descreveram paisagens
disseram dos nativos
insinuaram o ouro
e a prata
que poderiam encontrar
trouxeram selvícolas para agradar a corte
trouxeram o tabaco a ser fumado
trouxeram o cacau a ser torrado
não trouxeram doenças que lá não havia
não trouxeram ratos que lá não existiam
não trouxeram sonhos que lá não sonhavam
levaram as doenças os ratos os sonhos
conquistaram: tornaram-se senhores
exterminaram os povos
exauriram os metais
chamaram de novo mundo.
(Pedro Du Bois, inédito)
terça-feira, 17 de setembro de 2019
ILHA
Mística ilha
onde mantenho
meu passado
meu degredo
meus segredos
meus instantes
isolados
incólumes
desterrados
submerso futuro emerge na onda
em que afogo as lembranças
o mistério escorre
outras águas.
(Pedro Du Bois, inédito)
onde mantenho
meu passado
meu degredo
meus segredos
meus instantes
isolados
incólumes
desterrados
submerso futuro emerge na onda
em que afogo as lembranças
o mistério escorre
outras águas.
(Pedro Du Bois, inédito)
domingo, 15 de setembro de 2019
INCENSADO
Queima o incenso na sala
em conversas de pouco dinheiro
e exames médicos: horror do herpes
e suas sequelas. Danada doença
que o incenso queima
tosse
afoga
as mágoas
em instrumentalizadas
músicas. Não fala do cansaço
nem do casamento incerto
de errados tempos incensados
enquanto escurecem vidas
e na televisão preparam
o noticiário. Lembra
o cronista e suas palavras
ecoam sem respostas.
O aroma do incenso
na mesa e a mesa
posta. Aposta o jogo
em seu resultado
que não altera
a história: apenas
a repetição de campeonatos
anteriores e do que o médico
disse na consulta passada.
O incenso termina de queimar
e a conversa morre na sala.
(Pedro Du Bois, inédito)
em conversas de pouco dinheiro
e exames médicos: horror do herpes
e suas sequelas. Danada doença
que o incenso queima
tosse
afoga
as mágoas
em instrumentalizadas
músicas. Não fala do cansaço
nem do casamento incerto
de errados tempos incensados
enquanto escurecem vidas
e na televisão preparam
o noticiário. Lembra
o cronista e suas palavras
ecoam sem respostas.
O aroma do incenso
na mesa e a mesa
posta. Aposta o jogo
em seu resultado
que não altera
a história: apenas
a repetição de campeonatos
anteriores e do que o médico
disse na consulta passada.
O incenso termina de queimar
e a conversa morre na sala.
(Pedro Du Bois, inédito)
sexta-feira, 13 de setembro de 2019
DIAS POÉTICOS
O poeta troca a nau
pelo carro com que parte
para o nada como se fosse
a nova odisseia em paradas
de programadas baldeações
ou troca de sua nave
o carro circula estradas
em autovias sinalizadas
- onde a placa do labirinto? -
de faixas aéreas pré-determinadas
em que o gps marca a posição
exata de sua perdição terrestre
o policial solícito diz da próxima estrada
o agente turístico - sorridente - diz do hotel
aproximado e o poeta cansado pede
que alguém carregue a sua bagagem
e solícito
e sorridente
entrega ao carregador a pequena nota
vil e financeira de sua última rima
versada antes do banho.
(Pedro Du Bois, inédito)
pelo carro com que parte
para o nada como se fosse
a nova odisseia em paradas
de programadas baldeações
ou troca de sua nave
o carro circula estradas
em autovias sinalizadas
- onde a placa do labirinto? -
de faixas aéreas pré-determinadas
em que o gps marca a posição
exata de sua perdição terrestre
o policial solícito diz da próxima estrada
o agente turístico - sorridente - diz do hotel
aproximado e o poeta cansado pede
que alguém carregue a sua bagagem
e solícito
e sorridente
entrega ao carregador a pequena nota
vil e financeira de sua última rima
versada antes do banho.
(Pedro Du Bois, inédito)
quarta-feira, 11 de setembro de 2019
CIVILIZATÓRIO
A água pura
não era escura
como agora
na civilização
o floresta pura
era escura
antes de chegar
a civilização
a mente humana
clara e escura
carrega consigo
a civilização
a civilização
em lusco-fusco
é fogueira
sem imaginação.
(Pedro Du Bois, inédito)
não era escura
como agora
na civilização
o floresta pura
era escura
antes de chegar
a civilização
a mente humana
clara e escura
carrega consigo
a civilização
a civilização
em lusco-fusco
é fogueira
sem imaginação.
(Pedro Du Bois, inédito)
segunda-feira, 9 de setembro de 2019
DEMÔNIO
Ah o demônio
rubros olhos
traduzem
a maldade
inveja
ruindade
vontade ocultada
de nos travestirmos
e sermos a ameaça
que impõe o medo
e expressa a raiva
quem escreve textos
sobre o bem eterno
em respeito pelos seres
na inteireza do lucro.
(Pedro Du Bois, inédito)
rubros olhos
traduzem
a maldade
inveja
ruindade
vontade ocultada
de nos travestirmos
e sermos a ameaça
que impõe o medo
e expressa a raiva
quem escreve textos
sobre o bem eterno
em respeito pelos seres
na inteireza do lucro.
(Pedro Du Bois, inédito)
sábado, 7 de setembro de 2019
TOLOS
Tolo
são tolos
os sentimentos
expressados
onde não existe
receptividade
tolo
somos tolos
sentimentais
apressados
querendo a seiva
de seco tronco
tolo
sentimentalismo
impresso
em páginas e páginas
de velhas palavras.
(Pedro Du Bois, inédito)
são tolos
os sentimentos
expressados
onde não existe
receptividade
tolo
somos tolos
sentimentais
apressados
querendo a seiva
de seco tronco
tolo
sentimentalismo
impresso
em páginas e páginas
de velhas palavras.
(Pedro Du Bois, inédito)
quinta-feira, 5 de setembro de 2019
NÃO
Não há a minha casa
há a casa onde moro
não há a minha riqueza
há certa riqueza que exploro
não há a minha beleza
há a beleza que transformo
não há a minha vida
há a vida em que transito
levo a saudade
o conhecimento
e o choro: a casa
esquecida em dias
de outras belezas
desconheço a minha força
busco o recomeço: rememoro.
(Pedro Du Bois, inédito)
há a casa onde moro
não há a minha riqueza
há certa riqueza que exploro
não há a minha beleza
há a beleza que transformo
não há a minha vida
há a vida em que transito
levo a saudade
o conhecimento
e o choro: a casa
esquecida em dias
de outras belezas
desconheço a minha força
busco o recomeço: rememoro.
(Pedro Du Bois, inédito)
terça-feira, 3 de setembro de 2019
A VIDA
A vida teimosa
se apresenta
em fogos
e artefatos
artifícios
que a sustentam
em tolos corpos
que se escondem
a vida teimosa
se faz presente
quando a noite
acontece
vela
pela aurora
que refaz o dia
a vida teimosa
entontece a morte.
(Pedro Du Bois, inédito)
se apresenta
em fogos
e artefatos
artifícios
que a sustentam
em tolos corpos
que se escondem
a vida teimosa
se faz presente
quando a noite
acontece
vela
pela aurora
que refaz o dia
a vida teimosa
entontece a morte.
(Pedro Du Bois, inédito)
segunda-feira, 2 de setembro de 2019
TriploV Blog
A Ars Poetica em Márcio Almeida, em:
https://mail.google.com/mail/u/0/#inbox/FMfcgxwDqxNKcfJqKTHjTgSlWTgzPCQg
https://mail.google.com/mail/u/0/#inbox/FMfcgxwDqxNKcfJqKTHjTgSlWTgzPCQg
domingo, 1 de setembro de 2019
sábado, 31 de agosto de 2019
HISTÓRIA
Aqueles antigos personagens
passaram pela história
que nos contam
nós jovens
nem história temos
para contar
(com que autoridade
comandaremos o futuro?)
esses velhos personagens
da história: anteriores passagens
antigas verdades
em que a autoridade
flui do conhecimento por estarem
presentes ao acontecido
mesmo que agora
esquecidos nada mais
possam nos transmitir.
(Pedro Du Bois, inédito)
passaram pela história
que nos contam
nós jovens
nem história temos
para contar
(com que autoridade
comandaremos o futuro?)
esses velhos personagens
da história: anteriores passagens
antigas verdades
em que a autoridade
flui do conhecimento por estarem
presentes ao acontecido
mesmo que agora
esquecidos nada mais
possam nos transmitir.
(Pedro Du Bois, inédito)
quinta-feira, 29 de agosto de 2019
FINAL
Alegava a sorte
madrasta
dizia do futuro
infortúnio
orava no sucesso
o medo do fracasso
chorava o que havia
passado
choro de desconexa
carpideira no ensaio
como as promessas
cantava o azar
nas pedras
murmurava segredos
nas pétalas
gritava o silêncio
na última hora.
(Pedro Du Bois, inédito)
madrasta
dizia do futuro
infortúnio
orava no sucesso
o medo do fracasso
chorava o que havia
passado
choro de desconexa
carpideira no ensaio
como as promessas
cantava o azar
nas pedras
murmurava segredos
nas pétalas
gritava o silêncio
na última hora.
(Pedro Du Bois, inédito)
terça-feira, 27 de agosto de 2019
NEGÓCIOS
Não falam na sina do demônio
obrigado eternamente a negociar
com abjetos humanos loucos
para trocarem suas vidas
por alguns prazeres
o demônio sabe da factualidade
dos negócios: entende a efemeridade
dos prazeres: compreende o que terá
de volta no curto prazo
tudo lhe causa asco: o negócio em si
onde se apresenta quando chamado
: o livre arbítrio na grave omissão
da autoridade: a sem-vergonhice
que os obrigará para sempre
sempre chamado a negociar
almas penadas que nada
acrescentam à morte.
(Pedro Du Bois, inédito)
obrigado eternamente a negociar
com abjetos humanos loucos
para trocarem suas vidas
por alguns prazeres
o demônio sabe da factualidade
dos negócios: entende a efemeridade
dos prazeres: compreende o que terá
de volta no curto prazo
tudo lhe causa asco: o negócio em si
onde se apresenta quando chamado
: o livre arbítrio na grave omissão
da autoridade: a sem-vergonhice
que os obrigará para sempre
sempre chamado a negociar
almas penadas que nada
acrescentam à morte.
(Pedro Du Bois, inédito)
segunda-feira, 26 de agosto de 2019
A ARS POETICA em MÁRCIO ALMEIDA
infelizmente o dizer não se coaduna
com as ações: basta-lhe a expectativa
de algo a acontecer. dizer é simpática
ideia recorrida antes do decurso
mesmo sem haver prazo para
conclusão. fosse a leitura
vesânica do mestre
márcio
almeida
grafada em maiúsculas
que aqui se transforma
não por menoridade
ou inferioridade
ou desdita
ou desdizer
ou apenas
por querer lhe fazer as honras
pelas histórias (ainda) descontadas
fossem cheques voadores antigamente
utilizados para saques e pagamentos
dizer absurda o ser que se entretém
em negaças e fogos artificializados
como lareira cinematográfica
sem a necessidade de lenha
- decorativa – e fumaça
de olfato e lágrimas
mas o texto consentâneo
a tecer entretextos
sem a necessidade
de entrelinhas
e mazelas
vesânia ativa minha sensação
de perda no trabalho realizado
para a satisfação do patrão
mesmo sendo estado
e fisicamente estável
em promoções e salários
de hoje para amanhã
mas o autor sem qualquer vesânia
sabe – soube – bem traduzir o
esvaziado
oco do santo em madeira carcomida
ao se referir ao entrópico acordo
a que nos referimos em almoços
porca
miseria diriam uns e
outros
advindos em busca de salvaguardas
que a misericórdia não transita
vales e morros e planícies
em botas e portaluppis
mestre
almeida ao anunciar
o caos estremado em tantos
dizeres faz o dever de casa
sem que a casa deva impostos
e aluguéis: quem retorna sabe
do sacrifício em ter saído
que sair é transtornar o mito
e voltar atomiza o rito
sem passagem
des(d)enhar no signo
a verbalização em função
leitora na dessemelhança
cartograficamente poética
que deserda originalmente
na metragem angelical
da loucura que nos vigia
e assombra médicos
e enfermeiros assemelhados
no transitar cotidiano
antes da fama encenada
pelo fluxo desdobrado
no nome de quem
(ainda) vive o saber
conceituado ao ultraje
siliconadamente
significado na lógica
dos jogos e lúdicas
criações das verdades
que nos atravessam
pelo receio de sermos
- talvez – quem se vê
aurora obscura
em diálogos que teimam
o imaginário em que nos realizamos.
(Pedro Du Bois, inédito)
domingo, 25 de agosto de 2019
NADA
Rostos
dedos
voltados para o alto
não há acusação no gesto
nos olhos
em angustiada espera
sérios semblantes
ricto
olhos abertos
nada oferecem
em troca
não há quem se toque
não há qualquer toque
rostos
dedos
olhos cansados
retornam em esvaziada
cena que se encerra.
(Pedro Du Bois, inédito)
dedos
voltados para o alto
não há acusação no gesto
nos olhos
em angustiada espera
sérios semblantes
ricto
olhos abertos
nada oferecem
em troca
não há quem se toque
não há qualquer toque
rostos
dedos
olhos cansados
retornam em esvaziada
cena que se encerra.
(Pedro Du Bois, inédito)
quarta-feira, 21 de agosto de 2019
DORES
Dor da mãe
filho na guerra
esquecida infância
brincadeiras
esquecida adolescência
puberdade
esquecer que houve o sorriso
triste esgar
agora
dor da mãe
filho na terra
esquecida infâmia
bebedeiras
esquecido passado
amarrotado
esquecer que houve o filho
triste lembrança
agora
dor da mãe
filho da época
esquecido infante
sorrateiro
esquecido homem
transformado
esquecer que houve a esperança
triste passado
agora.
(Pedro Du Bois, inédito)
filho na guerra
esquecida infância
brincadeiras
esquecida adolescência
puberdade
esquecer que houve o sorriso
triste esgar
agora
dor da mãe
filho na terra
esquecida infâmia
bebedeiras
esquecido passado
amarrotado
esquecer que houve o filho
triste lembrança
agora
dor da mãe
filho da época
esquecido infante
sorrateiro
esquecido homem
transformado
esquecer que houve a esperança
triste passado
agora.
(Pedro Du Bois, inédito)
segunda-feira, 19 de agosto de 2019
ANTIGOS
Anteriores deuses
cerimoniosas figuras
impávidas sobre montes
descobriam as cidades
de perdidas ruas
sem fim e futuro
estradas: trajetos curtos
onde homens e mitos
se encontraram na primeira
volta do rio sem pontes
na porta o símbolo do medo
pela não realização na imagem
na desfaçatez do sonho o sono
pesado do escriba: mão calosa
fosse agricultor que na terra
cede à sede argentária
luas passadas
caminhantes perdidos
ao irem embora
confiando palavras
divindades caladas
mudas: confinadas
e confiantes na força
da forca: forcado restante ao corpo.
(Pedro Du Bois, inédito)
cerimoniosas figuras
impávidas sobre montes
descobriam as cidades
de perdidas ruas
sem fim e futuro
estradas: trajetos curtos
onde homens e mitos
se encontraram na primeira
volta do rio sem pontes
na porta o símbolo do medo
pela não realização na imagem
na desfaçatez do sonho o sono
pesado do escriba: mão calosa
fosse agricultor que na terra
cede à sede argentária
luas passadas
caminhantes perdidos
ao irem embora
confiando palavras
divindades caladas
mudas: confinadas
e confiantes na força
da forca: forcado restante ao corpo.
(Pedro Du Bois, inédito)