entende o que falo
fala
responde
conversamos sobre assuntos
que não nos dizem respeito
respeita meus pontos de vista
e não participa
compreende as razões
traduzidas em nova linguagem
gestos descompensados
de palavras
compensam a leveza
da linguagem
repete o que falo (de outra forma)
e a vida segue seu caminho
em silêncio
(Pedro Du Bois, inédito)
terça-feira, 31 de janeiro de 2017
segunda-feira, 30 de janeiro de 2017
domingo, 29 de janeiro de 2017
MUNDO
a ilusão da chuva contra a vidraça
a ilusão do olhar da mulher pela janela
a ilusão do pássaro em sobrevoo
a ilusão dos amantes nos corpos sobrepostos
a ilusão do mágico ao desaparecer objetos
a ilusão das letras em versos
a ilusão da luz sobre os insetos
a ilusão do saber ante o inexplicável
a ilusão de fazer repetir o dia
a ilusão no refazer corpos estraçalhados
a ilusão derradeira da sobrevida
a ilusão do barco em águas deslizadas
a ilusão da visão embevecida dos pais
a ilusão da chuva contra a vidraça
(Pedro Du Bois, inédito)
a ilusão do olhar da mulher pela janela
a ilusão do pássaro em sobrevoo
a ilusão dos amantes nos corpos sobrepostos
a ilusão do mágico ao desaparecer objetos
a ilusão das letras em versos
a ilusão da luz sobre os insetos
a ilusão do saber ante o inexplicável
a ilusão de fazer repetir o dia
a ilusão no refazer corpos estraçalhados
a ilusão derradeira da sobrevida
a ilusão do barco em águas deslizadas
a ilusão da visão embevecida dos pais
a ilusão da chuva contra a vidraça
(Pedro Du Bois, inédito)
sexta-feira, 27 de janeiro de 2017
NADA
A imensidão em nada refaz espaços
ocupados na aliteração do espírito
indisposto ao corpóreo esforço: enfado
e alguma forma de pecado: o escravo
se faz transparente na ilusão do toque
telefônico: o nada prolifera seriedades
no limite inócuo das apostas: o ator
representa a vida em cenas possuídas
ao extremo: o nada impulsiona luzes
por onde passam homens comuns
que na obrigatoriedade dos excesso
requisitam a plenitude alcançada
na atuação aprimorada do texto
decorado: o espírito indiferente
ao corpo crispado sobre o copo
despejado na ocupação do espaço
em nada
em nada
nada.
(Pedro Du Bois, inédito)
ocupados na aliteração do espírito
indisposto ao corpóreo esforço: enfado
e alguma forma de pecado: o escravo
se faz transparente na ilusão do toque
telefônico: o nada prolifera seriedades
no limite inócuo das apostas: o ator
representa a vida em cenas possuídas
ao extremo: o nada impulsiona luzes
por onde passam homens comuns
que na obrigatoriedade dos excesso
requisitam a plenitude alcançada
na atuação aprimorada do texto
decorado: o espírito indiferente
ao corpo crispado sobre o copo
despejado na ocupação do espaço
em nada
em nada
nada.
(Pedro Du Bois, inédito)
quinta-feira, 26 de janeiro de 2017
Isla Negra 437 + Navegaciones111.docx
Pedro Du Bois
Brasil
Passado
Escavamos destroços
retiramos camadas
terras e terras
sobre séculos
na busca das respostas
que não existem: (pois)
apenas crescemos
pouco a pouco nas gerações
que nos sucederam
assim
como música e vento
e árvores
escavamos trajetos
felizes em nos descobrirmos
menores e meninos.
quarta-feira, 25 de janeiro de 2017
FÚRIA
Tem no sentimento
a fúria
interminável
com que preenche
as horas vagas
dos encontros
avassala o tempo
em subterfúgios para conseguir
o intento: o contato na pele
indelével do encanto quebrado
no reflexo: fúria incontrolável
no afeto negado ao pensamento
teórico das contradições.
(Pedro Du Bois, inédito)
a fúria
interminável
com que preenche
as horas vagas
dos encontros
avassala o tempo
em subterfúgios para conseguir
o intento: o contato na pele
indelével do encanto quebrado
no reflexo: fúria incontrolável
no afeto negado ao pensamento
teórico das contradições.
(Pedro Du Bois, inédito)
segunda-feira, 23 de janeiro de 2017
AVESSOS
Avesso ao barulho
escuto silêncios
invento diálogos
sussurros
gritos apavoram
o espaço desocupado
ouço o nada
e retiro lembranças
avesso ao barulho
murmuro palavras ininteligíveis
e me afasto no espaço
aberto aos dizeres.
(Pedro Du Bois, inédito)
escuto silêncios
invento diálogos
sussurros
gritos apavoram
o espaço desocupado
ouço o nada
e retiro lembranças
avesso ao barulho
murmuro palavras ininteligíveis
e me afasto no espaço
aberto aos dizeres.
(Pedro Du Bois, inédito)
sábado, 21 de janeiro de 2017
MUSA
Da musa retiro o enfeite
nua
circula
em jardins suspensos
na imagem
a memória gesta
a fala onde se insere
a musa recompõe o mistério
entrevisto
antevisto nas sombras
do vulto em retirada
infeliz o velho expira o corpo
descoberto: o cego se penitencia
da visão esquecida em luzes
do que se lembra
a musa se dispõe ao rito: aguarda
em cada linha a roupa costurada
em textos infindáveis da nudez
em detalhes na entrega absorvida
pela cidade.
(Pedro Du Bois, inédito)
nua
circula
em jardins suspensos
na imagem
a memória gesta
a fala onde se insere
a musa recompõe o mistério
entrevisto
antevisto nas sombras
do vulto em retirada
infeliz o velho expira o corpo
descoberto: o cego se penitencia
da visão esquecida em luzes
do que se lembra
a musa se dispõe ao rito: aguarda
em cada linha a roupa costurada
em textos infindáveis da nudez
em detalhes na entrega absorvida
pela cidade.
(Pedro Du Bois, inédito)
quinta-feira, 19 de janeiro de 2017
SEMPRE
há o discurso
menor da cassandra
não original do estio
tempos de febres alvoroçadas
pela perda de comando
o indistinto rufar das asas
descoloridas da besta
no basta anunciado
tempos de falsas alegorias
em carnavais (re)começados
(Pedro Du Bois, inédito)
menor da cassandra
não original do estio
tempos de febres alvoroçadas
pela perda de comando
o indistinto rufar das asas
descoloridas da besta
no basta anunciado
tempos de falsas alegorias
em carnavais (re)começados
(Pedro Du Bois, inédito)
quarta-feira, 18 de janeiro de 2017
terça-feira, 17 de janeiro de 2017
MODOS
Identificar na sanha
a cena indiferente onde consumidos
corpos em suas belezas
responder questões transpostas
dos desfiladeiros: ter as mãos
na aspereza do encontro
recomeçar a troca imaginada
em que tormentas amainam espaços
demonstrados em assustados tempos
rememorar o alcance inabitado
da flecha disparada ao contrário
no corpo do indefeso ser
restabelecer o contato no extremo
retirado ao sumo do instante
reacender luzes amanhecidas de penumbra
ao vislumbrar no discurso o trecho
menor das inconfidências.
(Pedro Du Bois, inédito)
a cena indiferente onde consumidos
corpos em suas belezas
responder questões transpostas
dos desfiladeiros: ter as mãos
na aspereza do encontro
recomeçar a troca imaginada
em que tormentas amainam espaços
demonstrados em assustados tempos
rememorar o alcance inabitado
da flecha disparada ao contrário
no corpo do indefeso ser
restabelecer o contato no extremo
retirado ao sumo do instante
reacender luzes amanhecidas de penumbra
ao vislumbrar no discurso o trecho
menor das inconfidências.
(Pedro Du Bois, inédito)
segunda-feira, 16 de janeiro de 2017
domingo, 15 de janeiro de 2017
PERDAS
Dizem que perco
o que perco
como perco
dizem como devo me comportar
na perda: que a perda é inerente
na sustentação da vontade
pela vitória
dizem que me perco em argumentos
diversos do sujeito: direto do ocaso
por onde passam as trajetórias
dizem que perco o sentido
que perco as luzes
que perco o escuro
prometido aos que virão
dizem que perco a razão
e me escondo sob escombros
não removidos das construções
ordinárias dos dias.
(Pedro Du Bois, inédito)
o que perco
como perco
dizem como devo me comportar
na perda: que a perda é inerente
na sustentação da vontade
pela vitória
dizem que me perco em argumentos
diversos do sujeito: direto do ocaso
por onde passam as trajetórias
dizem que perco o sentido
que perco as luzes
que perco o escuro
prometido aos que virão
dizem que perco a razão
e me escondo sob escombros
não removidos das construções
ordinárias dos dias.
(Pedro Du Bois, inédito)
sexta-feira, 13 de janeiro de 2017
Revista Labirinto Literário
Pedro Du Bois
Mudar
Busco a mudança
no incógnito regresso
ao ventre
exijo outra
nova
repetida forma
na deformação do corpo
em desconhecimento
tenho o medo resolvido
entre os dedos: a coragem
nas brincadeiras
infantis do reconhecimento
mudo o foco no desatino
das sentenças
em que como igual
permaneço.
(Labirinto Literário n. 46, ano 11, Jan/Fev/Mar 2017, página 21)
Mudar
Busco a mudança
no incógnito regresso
ao ventre
exijo outra
nova
repetida forma
na deformação do corpo
em desconhecimento
tenho o medo resolvido
entre os dedos: a coragem
nas brincadeiras
infantis do reconhecimento
mudo o foco no desatino
das sentenças
em que como igual
permaneço.
(Labirinto Literário n. 46, ano 11, Jan/Fev/Mar 2017, página 21)
ESTAÇÕES
O frio permanece na hora
quente do verão entrante.
Findo o tempo de permanência
aberto no instante da despedida.
A memória revolta vidas
antecipadas na partida.
A noção do medo imagina
a passagem do espírito acolhedor
em esquentados outonos
de invernos adquiridos ao ciclo.
(Pedro Du Bois, inédito)
quente do verão entrante.
Findo o tempo de permanência
aberto no instante da despedida.
A memória revolta vidas
antecipadas na partida.
A noção do medo imagina
a passagem do espírito acolhedor
em esquentados outonos
de invernos adquiridos ao ciclo.
(Pedro Du Bois, inédito)
quarta-feira, 11 de janeiro de 2017
(A)TENÇÕES
ouve: o progresso pulsa sensações
eletro-eletrônicas e a mecânica capta
a aspereza das roldanas: pregos
em paredes: cantoneiras abertas
de chuvas passadas no estertor do som
vê: o regresso cancelado em viagens
despossuídas de sentidos: corpos
em sóis de desabrigo: malas
de roupas não usadas na sensação
do possuir o objeto: profusão
de cores na indicação da jornada
sente: a maciez do tecido anteposto
na dureza do estilo: ordens: comando:
o desmando desarma sorrisos na volta
ao nada readmitido pela incerteza
das cordas distendidas no universo
sustenta: a glória reacende
o corpo: doenças trabalham
mazelas: retornam no pouco
conhecido da verdade
(Pedro Du Bois, inédito)
eletro-eletrônicas e a mecânica capta
a aspereza das roldanas: pregos
em paredes: cantoneiras abertas
de chuvas passadas no estertor do som
vê: o regresso cancelado em viagens
despossuídas de sentidos: corpos
em sóis de desabrigo: malas
de roupas não usadas na sensação
do possuir o objeto: profusão
de cores na indicação da jornada
sente: a maciez do tecido anteposto
na dureza do estilo: ordens: comando:
o desmando desarma sorrisos na volta
ao nada readmitido pela incerteza
das cordas distendidas no universo
sustenta: a glória reacende
o corpo: doenças trabalham
mazelas: retornam no pouco
conhecido da verdade
(Pedro Du Bois, inédito)
segunda-feira, 9 de janeiro de 2017
METÁFORAS
Uso palavras distintas
diferentes
rearranjo modos
tempos
significados
distraio o sentido
ameaço o sentido
rechaço sentidos
sobre o que escrevo
não digo
não falo
resvalo no contexto
o âmago conduzido
da verdadeira palavra
alegórico
dispenso o fator
direto na comunicabilidade
a floresta me consome em gritos
abaixo da linha da saudade.
(Pedro Du Bois, inédito)
diferentes
rearranjo modos
tempos
significados
distraio o sentido
ameaço o sentido
rechaço sentidos
sobre o que escrevo
não digo
não falo
resvalo no contexto
o âmago conduzido
da verdadeira palavra
alegórico
dispenso o fator
direto na comunicabilidade
a floresta me consome em gritos
abaixo da linha da saudade.
(Pedro Du Bois, inédito)
domingo, 8 de janeiro de 2017
CAMINHAR, na leitura de W. J. Solha
DU
BOIS OU NE PAS DU BOIS,
C´EST
LÀ LA QUESTION
W.
J. Solha
CAMINHAR
é a primeira parte do livro POEMAS, de Pedro Du Bois, Projeto Passo Fundo 2016.
-
Tenho
resenhado livros, ultimamente, que me levaram a um processo que se pode chamar
de decifração, decodificação. Fiz isso com vários contos de Everardo Norões que
acabaram ganhando o prêmio Telecom do ano passado, grandes histórias – reais - sempre
sob suas estórias, que as reduzem até o aparentemente simples. Fiz isso, também, com o mais recente INTERSECÇÕES, de Cleber
Pacheco, que – opostamente - de cara,
mostra de que simples não tem nada.
Bem,
agora
recebo o POEMAS, de Pedro Du Bois, e me sinto como quem pelo menos pensava ter traduzido
a pedra de Roseta, o código genético, e,
de repente, dá de testa com a Pedra do Ingá.
-
Apesar
de “conhecer” a poesia anterior desse estranho gaúcho, de quem já produzi
resenha com o sintomático título de ENIGMA DU BOIS, pensei que pudesse – depois
de passar pelo teste da abertura – que se chama CAMINHAR - acelerar o passo,
mas vi que isso não seria possível e que me exigiria muito, mas muito mais esforço
mental ( e tempo ), de modo que - “Devagar com o andor”, eu me reprimo, e – pés no chão, pois estou com meu próprio
livro em andamento – faço agora com o sapateiro que, feliz depois de ver aceita
uma observação que fizera sobre as sandálias de um retratado por Velásquez, arvorou-se
em crítico de luzes e sombras da obra de arte, pelo que recebeu um severo
-
Zapatero: a tus sapatos!
Não
vou nem tentar gastar sola agora, portanto, com os demais livros do POEMAS: fico,
por enquanto, com suas primeiras vinte e uma páginas.
-
OK.
Em
O ENIGMA DU BOIS eu aventara a hipótese,
primeiro, de que seu processo de criação seria o mesmo do proclamado pelo movimento DADA, em que se poderia
recortar frases soltas de um jornal, metê-las num saco, sacudi-las e juntá-las ao acaso. Vi, entretanto, que não
se tratava disso, mas de algo na linha do FINNEGANS WAKE, em que uma intenção
poderosa subsiste sob cada palavra. Meu inglês é o do ginásio, e me é
impossível entender o que Joyce diz no primeiro parágrafo desse seu derradeiro livro,
mas veja se você consegue:
-
riverrum, past Eve and Adam´s, from swerve of shore to
bend of bay, brings us by a commodius vicus of recirculation back to Howth
Castle and Environs
-
Tradução
de Augusto de Campos:
-
riocorrente,
depois de Eva e Adão, do desvio da praia à dobra da baía, devolve-nos por um
commodius vicus de recirculação devolta a Howth Castle Ecercanias.
-
Não
entendi. Daí que vou à versão de Donaldo Schüler:
-
rolarrioanna
e passa por Nossenhora d´Ohmem´s, roçando a praia, beirando ABahia,
reconduz-nos por cominhos recorrentes de Vico ao de Howth Castelo Earredores.
-
Está mais claro.... mas não faço
ideia de por que o tradutor trocou o Adão e a Eva por
Nossenhora d´Ohmem´s.
Bem.
Guimarães Rosa, em Grande Sertão:
Veredas, segue essa recriação de linguagem, como se vê logo no começo do
romance:
-
Nonada. Tiros que o senhor ouviu foram de briga
de homem não, Deus esteja.
Alvejei mira em árvore, no quintal, no baixo do córrego. Por meu acerto.
Todo dia isso faço, gosto; desde mal em minha mocidade.
Alvejei mira em árvore, no quintal, no baixo do córrego. Por meu acerto.
Todo dia isso faço, gosto; desde mal em minha mocidade.
-
Essas coisas sempre me levam ao italiano límpido de Dante ao começar La
Divina Commedia dizendo que “Nel mezzo del cammin di nostra vita”, que a tradução de José Pedro Xavier Pinheiro
transformou num simulacro do Hino Nacional:
- Da nossa vida, em meio da jornada....
Volto a Du Bois. No poema 18 dessa
primeira parte de seu livro POEMAS, que é CAMINNHAR, ele diz que “Trancafia a
palavra em signos”, “Comprime o significado”, pelo que me parece que podermos,
em seu próprio texto, chegar ao seu sistema.
No poema 21, ele diz ( lembre-se de
que o tema é o caminhar) :
“A luz que ilumina a intuição.
Onde coloca os pés.
Onde fixa os olhos. Descobre
o destino da paisagem e se diz
ciente da responsabilidade.”
-
O que é que ele faz, então?:
“APAGA
A LUZ E APROVEITA
DA ESCURIDÃO
O POUCO”.
Esta, parece-me, é a sua poética.
Veja só o poema 32: ele me lembra de imediato uma cena de “Sobre Meninos e Lobos” – do Dennis Lehane,
filme de Climt Eastwood, e também uma, igual, de “O Iluminado” - de
Kubrick, - mas minha memória vai bem mais
longe, para um faroeste – filme ou história em quadrinhos – visto na infância: o índio, percebendo-se seguido, para, vê que
seus mocassins deixam rastros muito visíveis, anda para trás, pisando as
próprias pegadas, apagando as já repassadas, até chegar a umas pedras, donde,
correndo, parte pra nova trajetória. Eis o Du Bois, como se estivesse entre os que
conviveram com os moicanos:
“Repisa passos
ao contrário
na direção oposta –
do seguimento: fica
sobre a terra conhecida.
-
Onde o desconserto
ocorre:
cessa a busca
no convencimento
da permanência.
-
Apaga na trilha
o espaço ocupado
em cada passo.”
Ou seja.
Du Bois não quer ser lido por quem não “apaga/ a luz e
aproveita/ da escuridão/ o pouco”. Por isso “faz da travessia / pesada cruz “ (
poema 1 ). E “ diferencia o acompanhante do intruso. / Distingue o cheiro a
vista o tato” ( Poema 5 ).
Por que?
Whay? - como grita ao céu o Jesus Cristo Superstar, no
Getsêmani:
Jesus Cristo.
Volto ao Poema 1:
“Premeditação: nasce em pecado
Faz da travessia
pesada cruz.
-
Sofre no aprendizado
a tragédia inerente
à sua condição. “
“Sofre no aprendizado”:
- I'm sad and tired.
Mas é bem Du Bois o final inesperado, agora bem estilo A
Última Tentação de Cristo – romance de Kazantzakis, filme de Scorcese:
“Conforta saber da perdição
originada no momento sôfrego
e que corpos se entrelaçam.”
Viu aí? :
Sexo.
O tema volta no Poema 2:
“O animal acasalado
expulsa demônios de terras não aradas.
-
Vê e compreende a necessidade
do desejo.”
-
Palavras que se repetem nos versos desse CAMINHAR: Desejo,
pecado, fome. Ainda no Poema 2:
-
“a fome atravessa
a terra onde se embrenha.”
-
Isso prossegue no poema 3 ( e tudo agora começa a me parecer
mais simples):
“Apressa o passo
a fome dirige o pecado.”
(...)
Não pensa o pecado
e o mal se acomoda
na sobrevivência.”
-
Poema 4, terceto final:
-
“Acorda e concebe a fome.
Caçador e caça.”
-
O ENIGMA DU BOIS cresce no Poema 6:
-
“Assusta o pássaro. O urro retorna
Em gritos. ASSUSTA RECONHECER O OUTRO
NA IGUALDADE.. A desigualdade
na aproximação em corpos cansados
das jornadas. SABE DA VIDA
O NECESSÁRIO À FUGA E AO SILÊNCIO.
O segundo passo predispõe a sequência.”
-
Ele está nos contando uma história!
Poema 7:
-
“Cessa a caminhada
(...) (corpos / pedem contatos) Penetra /a carne e a recebe em vontade.” // “Há
vida na repetição. Rompe o cordão / em desespero.”
-
Este final é muito bom:
-
“ O choro interrompe / a extinção da espécie”.
-
Mas isso não basta. Lá adiante, nesse mesmo CAMINHAR ( do
livro e da vida ), ele, no Poema 17,
“Mede palmos. Há medo. Receia
o encontro: advinha o que se esconde
no encontro.”
19:
(...)
“Seguir em frente significa
deixar o consentido)”
-
Agora leia isto, do Poema 24, com atenção:
-
“O amor relembrado / é dor continuada. (... ) A família
constituída / com carinho. O AMOR /EMPAREDADO EM DESCENDÊNCIA / RESSOA ORDENS
NÃO CUMPRIDAS”.
-
O Poema 25, nessas circunstâncias, é poderoso:
-
“Através da porta a madeira
assume o gesto do reencontro.
Volta. Está além do retorno
e tem a frigidez do corpo
desacompanhado. O
medo
impele a mão que toca
a madeira. A solidão ecoa
o passado. O FUTURO É O ESTRONDO
COM QUE A CHAVE É GIRADA.”
-
A chave. É a mesma que reaparece no Poema 41:
-
“Muitas vezes multiplica o trajeto” (...) JOGA A CHAVE /
FORA E SE MANTÉM COMO HÓSPEDE.”
-
Bem, aí está.
Pode ser que eu esteja absolutamente certo, esteja
absolutamente errado. Se você se sente à vontade, o livro tem seis outras
partes como essa, vá em frente. A Pedra do Ingá – aqui, nas fuças da gente - não
foi, ainda, decifrada.
Dizer
Pedro Du Bois
Brasil
Dizer
Disse do fim do mundo
o medo irrecorrível
de não estar
mais aqui
na semana
próxima:
disse dos compromissos
inadiáveis
do estudo
dos
filhos
das férias
programadas
no longo
prazo
disse do fim de tudo
e sorriu dívidas
impagáveis.
sábado, 7 de janeiro de 2017
LER
Avanço a leitura
descontinuada
diuturna de adulto
adulterado em palavras
de verbos elididos
na libertação do personagem
minorado no sofrimento
de páginas intercaladas
risco na folha a forma
aproveitada em viagens
acolho o livro sob o braço
e descanso a vista em horizontes
anteriores ao mistério
retorno a leitura procurando
deduzir os começos repetidos
fecho o livro: depositado na estante
inalcançável da lembrança: repouso
a mente: olhos se fecham por instantes.
(Pedro Du Bois, inédito)
descontinuada
diuturna de adulto
adulterado em palavras
de verbos elididos
na libertação do personagem
minorado no sofrimento
de páginas intercaladas
risco na folha a forma
aproveitada em viagens
acolho o livro sob o braço
e descanso a vista em horizontes
anteriores ao mistério
retorno a leitura procurando
deduzir os começos repetidos
fecho o livro: depositado na estante
inalcançável da lembrança: repouso
a mente: olhos se fecham por instantes.
(Pedro Du Bois, inédito)
quinta-feira, 5 de janeiro de 2017
INSPIRAÇÕES
Respiro o ar contaminado da cidade
aspiro o ar artificial da autoridade
retiro o ar recondicionado da escada
sustento o ar poluído das esferas
compreendo o ar com que me ofende
calo o ar rarefeito dos encontros
descubro o ar (quase) perfeito do perfume
expiro o ar enclausurado enquanto vivo.
(Pedro Du Bois, inédito)
aspiro o ar artificial da autoridade
retiro o ar recondicionado da escada
sustento o ar poluído das esferas
compreendo o ar com que me ofende
calo o ar rarefeito dos encontros
descubro o ar (quase) perfeito do perfume
expiro o ar enclausurado enquanto vivo.
(Pedro Du Bois, inédito)