terça-feira, 30 de agosto de 2016

RENOVAÇÃO

Ao que se renova
no gosto da redescoberta

águas movimentam
o alheio instante no fortuito
toque de guitarra

na renovação o reencontro
em gestos aparados
sabe do retorno
no todo feito sentido

o preconceito se revigora na estupidez
do acobertamento dos nomes apostos
em velhos hábitos: mando e obediência

não se renova a esperança
incorporada em antigos
determinismos lembrados.

(Pedro Du Bois, inédito)

domingo, 28 de agosto de 2016

AS COISAS

                                  Quantidade medida
                                   em braças

(distâncias em abraços
 circunflexos)

                  na volta
                  o fio escapa ao controle
                  e a faísca
                  queima: a variedade
                  estende os braços
                  nos limites da peça

(distâncias em segredos
  confessados)

no retorno espero encontrar
as coisas nos mesmos lugares
por onde passa a música
no carro dos turistas

                   a totalidade despreza
                    o embaraço
                     em que se enraíza.

(Pedro Du Bois, inédito)

sexta-feira, 26 de agosto de 2016

TEMPOS

(absoluto) tempo adjetivado na sonorização
da gravidade: o vácuo seca as palavras
e as devolve em gestos de fatuidade

o tempo teima nossa permanência
fosse equação matemática: número
resfriado de repetições indolores

peso carregado
             multiplicado
na incerteza
de querer estar

o tempo assenhora-se do vácuo transmitido
aos estáticos seres:        assumimos as formas
de onde estamos e nos recolhemos em paisagem

dos números abstraímos sentidos
com que a vida nos divide

(absoluto) o tempo decorre sua sentença
no calar a nossa voz: fecha nossos olhos
na efemeridade recontada ao instante

(Pedro Du Bois, inédito)

Mallarmargens

3 poemas, em:
http://www.mallarmargens.com/2016/08/caminhos-pedro-du-bois.html

quinta-feira, 25 de agosto de 2016

Vale em Versos

Longe, em:
http://valeemversos.blogspot.com.br/2016/08/longe.html

SEGREDO

o segredo desvendado
reduz o fato ao mistério anterior

revelações instrumentalizam
raízes apagadas em corpos decompostos
                          no horror desinstalado
                          pela luz do dia
                          de permanentes horas
                          úteis nas jornadas

nada além do estreito termo
onde apomos nossa assinatura

                resta o aval
                           a fiança
                                a concordância formal
                                do selo: a estampa

(Pedro Du Bois, inédito)
                             

meiotom poesia&prosa

Força e Poder, em:
http://www.meiotom.art.br/dupo16poder.htm

segunda-feira, 22 de agosto de 2016

NÃO SER

Fujo ao contato: no isolamento
procuro o reflexo em que a imagem
se consubstancia: nada se mostra
na escura vida ignorada

o contato é a forma humana
dos encontros no lampejo
da minha memória.

(Pedro Du Bois, inédito)

sábado, 20 de agosto de 2016

CAMINHOS

Não me amedrontam
labirintos (inatingíveis
                  inexpugnáveis)

diversos minotauros
me subjugam
em ambivalências

a mim assustam fios
destecidos no não ouvir
outras vozes na diversidade
                      dos caminhos.

(Pedro Du Bois, inédito)


quinta-feira, 18 de agosto de 2016

TESTEMUNHA

revejo a cena

no fundo da garagem
olhos vermelhos
            brilhantes
            o pequeno demônio

no pátio
           indiferentes
   garotos jogando
                    bola

   sou único
testemunho

(Pedro Du Bois, em REENCAMINHADO, Edição do autor/2005)




terça-feira, 16 de agosto de 2016

APRENDENDO A VOLTAR


I
aprendo a voltar
e me perco
em recordações:

passado
petrificado
em passos
retornos
fechados
em acasos

aprendo ser a volta
o pior do encontro

rasgo instantâneo
do corpo
ao mistério.

(Pedro Du Bois, em APRENDENDO A VOLTAR, Edição do autor/2006)

domingo, 14 de agosto de 2016

Modus vivendi

Nada, em:
http://amata.anaroque.com/arquivo/2016/08/o_inicioda_temporada_encerra_a

ANDAR

Liga a televisão não assiste a nada
troca de canal como muda de vida

hoje bem amanhã quem sabe
morto está assim lhe vejam

continua na procura que perdura
escolhe nos dedos o pior programa

não tem a quem esquentar a cama
pássaro ferido congelado na lama

encontra fácil o que perdeu
é alfaiate a provar o terno

tenso pedaço espicaça o resto
ossos duros estalam na pressa

no horizonte da tela plana
herói: para nada anda.

(Pedro Du Bois, em PASSAGEM PLURAL, Edição do autor/2004)

sexta-feira, 12 de agosto de 2016

PORTAS E VENTOS

Onde estão as portas
batendo ao vento
acordando os pares
de seus sonos
cansados dos dias

portas fechadas
encerram o desconforto
de decompostos corpos

portas fechadas
denunciam pelo vento
tempos de reconquistas

ao longo da noite portas
e ventos são nomes
conhecidos dos sentimentos
presos e angustiados
entre esquadrias e ares.

(Pedro Du Bois, em ARES E VENTOS, Edição do autor/2005)


quarta-feira, 10 de agosto de 2016

O SENHOR DAS ESTÁTUAS


II
Deixa
inerme
e disforme
o material.

     Não trabalha a pedra
     transportada em sonhos
     não arranca a árvore
     na seiva conservada
     não transforma o todo
     em nada renovado:

ao deixar como estava
permite a continuidade do concreto
                               despersonalizado.

(Pedro Du Bois, em O SENHOR DAS ESTÁTUAS; Penalux, 2013)

segunda-feira, 8 de agosto de 2016

MÁGICA

I
Como verdade
costurada em corpos
nas cicatrizes
pensa o princípio

o espinho
rasga a pele
presente
na pétala
macia
suave
do futuro
refletido
no vidro
rascante
do vinho seco

a verdade repete sua mágica
e mitos jazem incompletos.

(Pedro Du Bois, em A PERSONIFICAÇÃO NA MÁSCARA, 
 edição do autor, 2012)

sábado, 6 de agosto de 2016

HOSPEDAGEM

Ao hóspede cabe o privilégio
de ser tratado como proprietário
e de participar dos atos da casa

aos de casa cabe o dever
de providenciar ao hóspede
cópia das instruções não escritas
no relato impreciso dos destaques.

(Pedro Du Bois, inédito)

quinta-feira, 4 de agosto de 2016

Letras et cetera

Expulsões, em:
http://nanquin.blogspot.com.br/2016/08/expulsoes.html

Isla Negra 427 y navegaciones 102

Pedro Du Bois
Brasil

Historias

(Introduz na história
 o conto: épico
               reescrito
               em prosa)

no alvorecer da idade
trava sua face aos monstros:

               a sucessão dos horrores
               interrompe a palavra

(reduz a história no relato
 sobre as condições
 dos detratores e da traição)

                ao alvorecer do dia
                desnuda o corpo
                em batalhas.


quarta-feira, 3 de agosto de 2016

ORIGENS

A dúvida
avassala a mente
                 mente ao corpo
                 exercícios imperfeitos

defeitos são presentes
retirados ao que me resta
                           como vida

(ávido) retenho em sonhos
                            a resposta

apostas aumentam
a sensação esvaziada
na desconstrução
necessária ao ócio.

(Pedro Du Bois, inédito)

segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Estudo Geral

Força e Poder, em:
https://luis-eg.blogspot.com.br/2016/07/forca-e-poder-pedro-du-bois-inedito-na.html

LÍQUIDOS

Após o dilúvio
sob a vinha
dorme o homem
do barco

bêbado
sonha o dilúvio
no trabalho de armar
o barco
na embarcação
das espécies
no providenciar
mantimentos
para quarenta dias

acorda sedento
com dor de cabeça.

(Pedro Du Bois, inédito)