segunda-feira, 25 de abril de 2016

CIDADE

Olho a cidade em barulhos
sussurros             silêncios

posso me reconhecer no antro
escuro de seus becos (cidades
estão repletas) vazios 
de encontros: a cidade
se renova no lugar
de sempre: longe
                  perto
      além do desejo
      em que caminhos se bifurcam.

No antro o rancor silencia
a noite que na periferia
reinicia a obrigação da volta
                            para casa.

A cidade envelhece as pessoas
anônimas no reconhecimento

escondendo a pressa na passagem
a cidade me faz diverso em ser fiel 
escravo do progresso: imerso.

(Pedro Du Bois, inédito)

SOPHIA

                                             "Perfeito é não quebrar
                                              A imaginária linha

                                              Exata é a recusa
                                              E puro é o nojo".


     De onde está (estaria)
     no começo do universo
     a linha traz (traria)
     a decisão inerente
     dos acordos

     esse o nojo
     trazido em retorno:
                rastro rasgado
                na terra
     embevecida em recusas

     sabe (saberia) dizer
     da constância
     e se revela (revelaria)
     em glória.

(Pedro Du Bois, inédito)      

PLANOS

Plano: herdar os bens
para recuperar o gosto

(aos deuses cabem palavras
 destituídas: verbos não conjugados)

do plano retiro o livro revestido
de importância: obra imortalizada
no desafio dos semblantes indiferentes
dos personagens: enamorado casal

(aos deuses a obtenção da verdade
 conduzida em trens anteriores
 aos trilhos: verbos transfigurados)

planos retraem multiplicados acordos
entre sóis e luas em estreladas noites
de alegorias inconsequentes

(aos deuses sobram encontros
 na vingança orientada dos finais).

(Pedro Du Bois, inédito)

ÚLTIMO

última tentação
          tentativa
estertor do corpo
    contra o corpo

     gozo
     orgasmo
     plenitude antevista

frente ao espelho
a definição reflexa

corpos se afastam
e se repelem
no apagar
das luzes

(Pedro Du Bois, inédito)

JANELAS

Segredo: abro as janelas
e na luz recebo
o sentido contrário.
No ordinário das respostas
retiro golpes imemoriais
com que escondo os horrores
da condição incorreta do passado.
Desminto atrocidades cometidas
em pensamento: revelo o segredo
na razão da inconsequência
das desculpas pronunciadas
em resguardo
       e aconselhamento
ao confundir as imagens
na primeira hora. Desdita
acontecida na hora mediana
dos extremos em estranhas
fases na face possível.

Segredo: permaneço ante janelas
sem que o gesto se concretize
e o dia finde.

(Pedro Du Bois, inédito)

TEMPO FUTURO

Na chuva torrencial
dos alagamentos
corpos encharcados
                        (submersos)
                        recebem a graça
                        inaudita na hora
                        de ir embora

quando o calor cobrir a superfície
e a água ferver em instantes
estaremos após o tempo
de secagem: inúteis e ilesos
                               (mortos).

(Pedro Du Bois, inédito)

MARES

O mar fechado
guarda o barco
em terra

inerte
sobre toras
aguarda
o mar aberto
em ventos

range o madeirame
rasga a vela
(o prático chora
 seu silêncio)

rolam toras
em águas turvas

o barco se curva
no prático aguardar
do passar da ressaca.

(Pedro Du Bois, inédito)

sábado, 9 de abril de 2016

QUESTÕES

Questões esquecidas
em tempos conflitantes: revigorados
no estio queimam corações
em vinganças de famílias
rarefeitas em guerras: decorridos
no andar do vento úmido e quente
e frio e seco trazem gritos
levam lamentos: esquecem
bonitas palavras: iletrados
desconsideram que o gesto
ameaça a paz provisoriamente
alcançada no misturar o silêncio
estendido ao nada: menores
questões açuladas: azulados céus
no estar e escutar sons vindos
de onde o grito permanece
esquecido: guerras agarram
corpos endurecidos em mentes
insanáveis de retornos: questões
maiores nos trazem de volta
e ao entrar na casa anterior
ao gesto temos o retorno
no indigesto estado
em que a vingança tarda.

(Pedro Du Bois, inédito)

quinta-feira, 7 de abril de 2016

ASSIM

(como se) adiante de mim viessem recados
de silêncios (não) contidos nas esperas
(então) estaria preparado para lutar
à luz do mundo impuro (é) o ser
desesperado grita (in)glórias
sobre o muro: (sim) imundos gestos
com que (me) conquistassem mundos
avaros de incertezas: (sobre) galhos
trouxessem barulhos dos (in)ventos
e mortalhas (franzidas) em agonia:
(através) do outono advindo em ruídos
buscassem o renascer da estátua (como me
foi prometido) na beira do abismo
plasmado em cenas de homenagem: (nada)
acontecessem ao acaso e do (des)gosto abjurado
no golpe a serpente (ela) reconstruísse
o instante (maléfico) do golpe: no futuro
(impuro) (res)guardassem o sentimento
balançado (em cordas) dos (ante)passados.

(Pedro Du Bois, inédito)

terça-feira, 5 de abril de 2016

RISOS

No regresso traz o riso
colhido no vento ultrapassado
pelo eco das conversas mal
ouvidas: pessoas jogam fora
seus horários de partida

seu riso no instante em que se diverte
mesmo que risadas sejam lembranças

rasga o riso em sementes não amadurecidas
no seco estalar dos dedos contra o dizer
das despedidas: risos escondem
o medo do irreconhecível

alveja o riso em pleno voo: recôndito
de mera corrida sobre o solo: repete
o tiro  ao estender o arco que no riso
sobram vidas em novas capturas

no riso tolos moldam pães
e sérios se enredam.

(Pedro Du Bois, inédito)

domingo, 3 de abril de 2016

AMARES

Ao mar deixo em paz as águas
há movimento suficiente

não sou mãos seguras
a tremular águas despejadas

na distância aguardo os encontros
em águas de cores transformadas
nas águas aprofundadas da viagem

do (a)mar carrego lembranças.

(Pedro Du Bois, inédito)


AMPLITUDE

Da amplitude marinha
retiro amares: olho e sinto
 a água molhar meus pés

enlevo o espírito na equivalência
duvidosa da minha existência

o mar se transforma em oceanos
além da vista: amplitude em horizontes
amorosos sobrepostos em pontes
cambiantes de sentimentos.

(Pedro Du Bois, inédito)