quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

CONVERSAR COM O MENINO



Posso dizer ao menino não cresça e permaneça estático
que as horas vindouras são más em destruições e mortes:
o menino responderia que a morte o alcançará criatura
em brincadeiras e aprendizados: posso dizer ao menino ser
indesejável o modo como se tornará utilitário: o menino 
responderia aceitar o risco se souber das finalidades: posso 
dizer ao menino ser a finalidade o oposto da liberdade
e respostas simétricas sobre a mesa absorvidas 
em fomes aborrecidas e em sedes não saciadas: o menino 
responderia serem as formas avessas do destino brincadeiras
em cada manhã não assoberbada de afazeres: digo
ao menino não fugir da altura imposta ao salto
e permanecer sobre as pedras onde o concreto
substitui o sonho e ao sono não é permitido acordar
risonho: asseveraria o menino sobre misérias e mistérios
no desconhecido traçado dos anos passados em progressos: 
ao menino conto verdades aleatórias e mentiras 
mensuradas em trajetos: o menino não saberia me dizer
da infância incorrigível em papéis de balas e da parafernália
do seu mundo obtuso reformulado em lógicas matemáticas:
o menino não aceitaria a minha palavra de fiança
e garantia e quereria a vida como prova da vivacidade
a demonstrar em gestos a vaidade do pássaro em vôo
além da irresponsabilidade da formiga em marcha: sobre
a morte diria o menino ardem segredos sem norte 
e hodiernos transportes iludem as paisagens 
e o desdobrar do barco na água repete 
a passagem: ao menino não caberia 
a responsabilidade pelo crescimento em sobriedade
que à seriedade se transfiguram monstros
nas cavernas da memória: sobre afeições 
diria o menino repousam ácidas questões 
irrespondíveis e das raridades são ouvidos 
rasgos de coragem: a coragem grito eu ao menino 
requer discursos e estratégias que ao medo sobram táticas
e explicações: sim balbuciaria o menino cansado do trajeto
na curta instância entre medos impostos em cada reprimenda 
na equiparação das partes e pequeno e menino se declararia
em paz com as oferendas: nas oferendas
vejo o menino traduzido em luzes inescapáveis 
no distanciamento: aos dias faltam espaços preenchidos
com bondades e aos adultos restam noites vazias
de utilidades: somos úteis e aos meninos
se oferecem liberdades completadas no fechamento
anterior do espaço: todo percurso é o soçobrar
do barco: das águas finalizaria o menino surgem desconfortos
em cansaços e a insegura sensação da imobilidade: o flutuar
do menino adormecido é o maior pecado.

(Pedro Du Bois, A NECESSÁRIA PARTIDA, volume II, edição do autor)

quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

terça-feira, 29 de dezembro de 2015

RUDIMENTOS


O corpo tosco, ideológico, cheira
à bebida barata do bar da esquina,
o olhar inerte sobre a toalha: a lembrança
é mortalha do intelecto no caminho
percorrido ao alongar o físico;
o contato contamina o destino
e nos ouvidos se rebelam sons inaudíveis;
repete o gesto com que bebe o líquido
nas vezes despretensiosas da saudade;
reafirma ao homem da outra mesa a incerteza
do sobreviver: ideológico, destila o humor
esbranquiçado da verdade: o homem
ao lado bebe ao santo de todos os sábados.

(Pedro Du Bois, RUDIMENTOS, I, edição do autor)







segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

O QUE DEVE SER FEITO


Tudo o que quer fazer
nas horas ímpares
deixa para depois
do tempo concentrado
em preocupações maiores

o início traz notícias
sobre permanências
dispensadas em asas
de pássaros concebidos
em ninhos destruídos pela chuva

na chegada
arrasta a cadeira
onde senta e olha

suas vontades
trazidas em destinos
frágeis de terminações
afora amores filiais
descrentes do que guarda

vastas camadas florais
de perfumes significados
atraem antecipações
mordazes de comentários
orientados em suspensões

repletas vidas se completam
em voltas descontadas
nas distâncias ocorridas
entre vidas ouvidas
em audiências objetivadas
de governanças e participações

tudo feito em dias
úteis de salários
e comparações
exemplares de sonhos

visões irrepreensíveis
de cabeças abertas
em sensores decorridos
de espionagens
e prêmios ofertados

o andar do objeto
identificado nos que ficam
sobre terras enxutas
e nada é poupado
ao sofrimento mantido
na coragem das perguntas

o fazer não idiotiza
relações irresponsáveis
nos lazeres descritos
em prazeres baratos

rasgada roupa assoma
o corpo mentiroso das torturas
no arrancar peles onde
passam unhas avassaladoras

quer refazer a dor
duvidando da integridade
com que se apresentam
rostos restritos
na contrição das mãos

destroços recolhidos
em restos plásticos
do todo fragmentado
na dúvida em que
repete gestos
suspeitos na noite

hora de afastamentos
traduzem inquietações
nas liberações: sonos recuperam
corpos esquecidos nas condições
sensíveis das experiências
prometidas das demoras

rumo bifurcado
na procura das faltas
acobertadas no que não sabe

suposições indiciam
ocasiões espertas onde
o passado desnorteado
é tragédia anunciada
em afastamentos: o restante
feito quando possível.

(Pedro Du Bois, POETA EM OBRAS, Volume I, edição do autor)

domingo, 27 de dezembro de 2015

A MORTE INSANA

Não vê a morte violenta
pedra na fragmentação da bomba
no tiro desfechado na flecha
da palavra dita em mentira

presente ouve o sibilar
do dardo no bote da serpente
a traição do ausente.
A morte não avistada estrela
nua na escura espera
de contratempos: pedra arremessada
o ódio concentrado transborda.
A morte estreita passagem do frio
sobre o corpo no fim onde a lembrança
se instala: longe tiros trocam vidas.

(Pedro Du Bois, em A AUSÊNCIA INCONSENTIDA, edição do autor, 2005)

Modus vivendi

Outros, em:
http://amata.anaroque.com/arquivo/2015/12/outros

sábado, 26 de dezembro de 2015

SOBRE A TEMPORALIDADE


Passado ano
quando nos encontramos
e dissemos saber do futuro

ciganas espertas
leram nossa sorte e nos mantiveram
ansiosos em traços manuais

a descoberta de que o passado
presenteia o futuro

em anos ultrapassados
nos dissemos cientes do futuro

quando percebemos que iríamos nos separar:

encontros cancelados em trabalhos
e realizações: desencontros em sinais
trocados: contar os dias
  
fazer de conta que lembramos

em anos atrasados nos dissemos
futurísticos seres dos amanheceres

estátuas em sais: amargamos
sermos nossos destinos

quando da decisão inócua
imagens retornam em sonhos

quando não lembramos os sonhos
somos vazios em indiferenças

anos atravessam passados movediços
e nos depositam na solidão da casa

vislumbramos ser o futuro
gesto desmedido da saudade.

(Pedro Du Bois, A NECESSÁRIA PARTIDA, volume I, edição do autor)

domingo, 20 de dezembro de 2015

Blocos Online

Preferir, em:
http://www.blocosonline.com.br/literatura/arquivos.php?codigo=poeregistra/2015/pr150902.php&tipo=poesia

RECONSTRUÇÃO

No envelhecimento reconstruo a vida
e a sirvo em lamentos remanescentes

não quero reviver em lembranças
momentos presentes. A cena deprimente
restabelece o nexo aprofundado
em desejos: esquecimentos

refeito em cena recomeço a exibição
dos tormentos desfiados em palavras
nos gestos consentidos pelo corpo

na reconstrução sinto falta dos elementos
com que filtrava outrora os sentimentos.

(Pedro Du Bois, inédito)

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

meiotom poesia&prosa

Tácito, em:
http://www.meiotom.art.br/dupo15tacito.htm

RESPOSTAS

Ao ser perguntado
respondo isento
de responsabilidade
sobre a água
              sabonete
                  escova
                     pasta de dentes
(o creme rejuvenesce a pele)
                       toalha comum
                                    talco
                                     perfume

a limpeza externa
eleva o corpo no sublimar
da propaganda

nada respondo sob aspectos
interiores: não refletidos
                 nas vitrines.

(Pedro Du Bois, inédito)

quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Almanaque Gaúcho - Jornal Zero Hora

16.12.2015, Página 44:

TÁCITO

Acordo: faço-me desconhecido
ao amigo: sofro suas dores: retorno
ao ponto inicial no me dizer ávido
em consolos: reencontro palavras
ao negar o confronto: acordos
não escritos perduram silêncios.

(Pedro Du Bois, inédito)

Vale em Versos

Guerras, em:
http://valeemversos.blogspot.com.br/2015/12/guerras.html

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

VOCÊS TODOS

tenho em você
              vocês
              vocês todos

o suave desengano
onde encontro
         verdades
         de fatos
         antepostos
         no movimento
         inercial
         dos regressos

volto a face ao ocaso
e o acaso me enlaça
em descobertas: alinho
o corpo no instante
e me delicio na vida
desproporcionada

(Pedro Du Bois, inédito)

domingo, 13 de dezembro de 2015

Revista Poética Brasileira

página 3:

CAMINHO

poluído
assoreado
ressecado em partes
               desabitadas

meus rios permanecem

repouso os pés
              (cansados)

faço minhas estradas
em restritos caminhos
espalhados pelo corpo
em planícies contidas
na aceleração de planaltos
                         e gargantas

o som do rio
em placidez conta
do não regresso
na renovação da água

(Pedro Du Bois, inédito)

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

TÂNIA na leitura de Waldemar José Solha


Pedro, Tânia,

Acabo de ler a bela série de poemas criada pelo amor entre vocês. Do total de versos grifados me resultou um dos mais altos cantos de um homem a uma mulher:

Trazes no corpo
Emoldurado espírito.
Trazes no íntimo a luz
E a chama.
Iluminas e queimas trajetórias: levas
O incêndio ao clarão da rua. Agitas
O silêncio.
Ao passado concedes
A tentativa de ser permanência.
Sabes sair
E chegar: ouvir e escutar
E falar.
Transtornas
A irrealidade
Em fato consumado.
Sabes.
Sabes discernir o certo e o escuro.
Determinada em acontecimentos
Não diriges a obra. Deixas que seja
Construída ao sabor
Do vento
No relento.
Consomes o interesse
E o frio,
És a improbabilidade
Da ausência,
E o esforço
Desconcerta o alvoroço
Com que te quero.
O tom te eleva
Ao infinito
E o horizonte
Recoloca palavras
Em tua boca.
Trazes a filha
Que traz as filhas.
Na totalidade em que te divides
Demonstras o azul e o verde
O céu e o mar
A água.
És o todo
O pouco
A parte.
És partida
E a permanência grita teu nome.

Almanaque Gaúcho - jornal Zero Hora

ARCABOUÇO

Arcabouço construído: aos poucos
surge ereta construção tomando espaços
colhidos de ares desabitados. Ângulos
concretados escondem em paredes
o lado da espera. O inseto invade
o íntimo e se revela em voo. Nervosismo
na vida emparedada. Do arcabouço
original resta a ideia: aos poucos 
ressecam cinzas.

(Pedro Du Bois, no Almanaque Gaúcho, página 52 
 do jornal Zero Hora, Porto Alegre, RS, em 10.12.2015).
1

Letras et cetera

Esforço, em:
http://nanquin.blogspot.com.br/2015/12/esforco.html

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

A História Vivida

Vistas, em:
http://ahistoriavivida.blogspot.com.br/2015/12/vistas.html

ENTENDER

para entender
o fato
o ato
a intenção
   na repercussão

tenho de me fazer tolo
repartido na cena
resfolegante da subida
e no afogamento

tenho em mãos razões
para os motivos
despercebidos
na ansiedade

o quadro na parede
reflete a paisagem
em que sou nada

(Pedro Du Bois, inédito)

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

PRONTO

outro dia
pronto ao destino

na sombra da noite
dorme o passado

aniquilado corpo
sacode incertezas
e reza deuses
recém criados

a vingança
na sanha assassina
de repetir verbos
embalados na face
diante do espelho

imagem irrefletida
do primeiro dia

(Pedro Du Bois, inédito)

sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

NASCERES

Não foi desta terra
                      parido
                      filho
                      na ingratidão da lembrança
                                                      da dor
                                                      do parto

                    reparte os bens materializados
                    entre filhos no atavismo
                    pueril dos reencontros

                                     a terra desconhece o corpo
                                     em destacado formato
                                     e o decompõe aos poucos
                                     em outras formas

                    é desta terra o regurgitar
                    dos elementos no tormento
                    não declarado no nascimento.

(Pedro Du Bois, inédito)
                                   

quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

ORIGEM

origem
lembrada
(infinidade de fracassos)
trajetória elíptica
maneira simplificada
composta em objeto
único
uno
na indivisibilidade
entre corpo e espírito
onde sobrevivo
no curto espaço (tempo)
travestido em matéria
de esquecida origem
dispersada na futura
administração do passado
como fardo

(Pedro Du Bois, inédito)