sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

DOS ENCANTAMENTOS

dos encantamentos tenho lembranças
em uníssimas cordas distendidas
nos corpos sobre a pedra no afago
com que o carrasco pensa usufruir
a dor do condenado no espasmo
que o arremete ao nada

dos encantamentos tenho a realidade
erma de dias isentos em claridades
na espera do corte de lascas de cimento
com a ponta dos dedos desprovidos
de vaidade e veleidade

dos encantamentos tenho o subterfúgio
em que as horas são substituídas
na ilusória atemporalidade do passado

(Pedro Du Bois, inédito)

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Projeto Passo Fundo

Objeção, em:
http://projetopassofundo.com.br/principal.php?modulo=texto&con_codigo=52517&tipo=texto

LUAR

Lua
como te vejo
trêmula
cúmplice
alheia ao contexto
              branco
              pálido
              irrefletido
              do começo

luar ávido
avaro
avarento vento
em deslocadas nuvens
sobre o tenso cansaço
com que o interlúdio
cessa no encobrimento.

(Pedro Du Bois, inédito)

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

ABSURDOS

Absurdo entranhado no retorno
do espírito em fatos começados
no pagamento de nova promessa
de reingresso ocultado aos sentidos
                                   negado em horários
                          refeitos nas vezes dos executores
                          de tarefas de entendimentos

abismo onde nos debruçamos em buscas
decididas em histórias mal contadas
de princípios desperdiçados
em ignomínias declaradas
nos instantes de maldades

a partida desconfia do retorno
impelido ao desempenho futuro

o traçado sobra na jornada: terreno
conquistado no engodo da viagem
ao extremo gosto amealhado: ladrão
desordenado do cansaço: repousa
no civismo dos confrontos e adeuses.

(Pedro Du Bois, inédito)

sábado, 21 de fevereiro de 2015

POSIÇÕES

A posição
duvida da exatidão espacial
onde o tempo aguarda
a próxima passagem

a imensidão em ecos
reverberativos das procuras

encontros onde o nada
consubstancia ilusões
de transtornos estrelados
no abismo negro das travessias

a posição dos ponteiros
de épocas em fragmentos
na ultrapassagem
da parte massacrada
em maneiras de ser
apátrida no esquecimento
das batalhas arranjadas

a (outra) visão reconforta
vidas perdidas na busca
incessante.

(Pedro Du Bois, inédito)

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

VELHOS E MENINOS

O velho torna sobre seus pés e olha o menino
brincar no outro lado da estrada

lembra a sua infância e das brincadeiras
em outros lados de outras estradas

o velho retorna o seu caminho
e o menino continua a brincar
no seu lado da estrada

o menino não vê o velho se afastar
em cansados passos
de quem brincou
em outros lados
de outras estradas

ao menino interessa brincar
naquele momento
naquela estrada
naquele lado

o velho continua a sua caminhada
perdida em lembranças de brincadeiras
em estradas onde os lados
se repetiam nas paisagens
passageiras do seu passado

na brincadeira não interessa
ao menino a estrada
e o outro lado

aos meninos nas beiras das estradas
as passagens e os lados
são acidentes gráficos
em obstáculos
ou facilidades
para suas brincadeiras

aos velhos as brincadeiras
dos meninos são retratos
infelizes de passagens
e lados
nas estradas percorridas.

(Pedro Du Bois, inédito)





terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Vidráguas

Paz, em:
http://www.vidraguas.com.br/pedro-du-bois-paz/

SEGURO

repetitivos gestos
de sobrevivência

ânsia
angústia
fantasiosa hora
de reencontros

segue os passos do pai
que seguiu o avô
no prosseguir menor
das vidas terminadas
antes do início

repete dias em gestos
onde se reconhece
na segurança menor
em que se abriga.

(Pedro Du Bois, inédito)

domingo, 15 de fevereiro de 2015

PENAS

Posso alegar
inocência
ou me declarar
culpado

opostos
destinos
entrelaçados

a condenação
absolve
a mente
do pecado

a absolvição
mente
a continuação
do ato.

(Pedro Du Bois, inédito)

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

meiotom poesia&prosa

Infinito, em:
http://www.meiotom.art.br/dupo15inf.htm

SÍMILES

O desinteresse
no simular
a similitude
com que o símio
nos aproxima

a similaridade assusta
em cada descoberta
da singularidade exposta
em encontros similares

a súmula acrescenta o medo
ao nos dizermos diferentes

diferenças
são simulações
do instante da igualdade.

(Pedro Du Bois, inédito)

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

CORAGEM

Na coragem cavalgada
em asas de dragões
ressurge o medo
inconstante
de ter o corpo
elevado ao espaço
onde dragões se despedem
em voos ilusórios

percebe a sombra
no espetáculo conduzido ao ápice
do número acrobático

dragões desaparecem em realidades
concretas onde sombras se representam
em amores de primeiras intenções

da coragem retira o apoio
e cede à tentação: o medo
                sinaliza o tempo.

(Pedro Du Bois, inédito)

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

LONGE

Longe
deposita

    lágrimas

sobre o corpo
no longo caminho
percorrido

na passagem os olhos
acompanham ao longe
                       o passado.

(Pedro Du Bois, inédito)

sábado, 7 de fevereiro de 2015

meiotom poesia&prosa

Paz, em:
http://www.meiotom.art.br/dupo15paz.htm

Modus vivendi

Infinito, em:
http://amata.anaroque.com/arquivo/2015/02/infinito_2

AMANHECER

na primeira hora dorme
e o acordar traduz o dia
em luzes de pura razão
e assombro no intercalar
o sono à vontade
de ser transportado
no quanto absorve
do que vivencia


ao seguir dormindo
sonhos se fragmentam
e retiram do dia alvorecido
razões no permanecer
em sonos diurnos

barulhos se entrechocam
em pesadelos ácidos
de críticas memórias

mecânicos sonos aprisionados
em dias amanhecidos de duradouras
noites onde quem dorme refém
acorda no susto de estar vivo.

(Pedro Du Bois, inédito)

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

PURIFICAÇÃO

A estátua
sente a água
móvel
sob os pés

refrigerado corpo
alagado corpo
encharcado corpo

submerso

movimentos lentos
de quem regressa
ao âmago
e se entrega
           recuperado

ao filho cabe o retorno
e aos pais o acolhimento
do corpo batizado
na purificação da casa.

(Pedro Du Bois, inédito)

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

ESQUECER

O popular
      conhecido
   reconhecido
  abençoado
          refratário
não será lembrado
na inexistência apregoada
em benefício da vida progressiva
             onde destroçamos mitos
           
mesmo que alguém
ainda saiba da história
esse alguém é pouco
             (quase nada)

o nada sobrevive tormentos
quimicamente destroçados.

(Pedro Du Bois, inédito)


domingo, 1 de fevereiro de 2015

PARA TÂNIA


      Muitos (tantos) cantam loas
aos amores perseguidos em gatos
e ratos: transformam o dia
     em histórias deslocadas de noites
     mal adormecidas. Outros (tantos)
               repetem melodias em ofertas
               de produtos açucarados
                              e perfumes desbaratados
                              em lojas inconvenientes.

     Poucos amam o silêncio cúmplice
    de olhos e corpos encostados: poucos
                           se armam indissolúveis.

(Pedro Du Bois, 310115)