segunda-feira, 29 de setembro de 2014

DIZER

Nada digo sobre o cesto
repleto de papeis picados
desconsiderados intérpretes
do que é passado a limpo
e do rasurado esforço
para sintetizar melhor
as ideias truncadas. Difíceis
os primeiros obstáculos
antes de acostumar o corpo
ao descanso do adquirido
conhecimento e das regras
básicas do distanciamento.

(Pedro Du Bois, inédito)

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Arcanos Grávidos

Insano, em:
http://arcanosgravidos.blogspot.com.br/2014/09/insano-pedro-du-bois.html

INTÉRPRETE

Representa o papel
protagonizado na irrealidade
em que passamos o tempo

(vago)

o vento entre as casas
espaça o nada: brisa singela
              rápida tempestade

a interpretação registrada
em afrescos recém pintados

o papel esvaziado no final
da cena: o intérprete permanece
                                na lembrança.

(Pedro Du Bois, inédito)


terça-feira, 23 de setembro de 2014

INCONSCIENTE

No inconsciente
alojado em instintos
o mito permanece

fina camada de verniz
embeleza a imagem

inventa histórias
que justificam
os atos praticados

fímbria ilusão do passado
                             intocado.

(Pedro Du Bois, inédito)

Arcanos Grávidos

Entardecer, em:
http://arcanosgravidos.blogspot.com.br/2014/09/entardecer-pedro-du-bois.html

domingo, 21 de setembro de 2014

Pavilhão Literário Cultural Singrando Horizontes

Diversos poemas, em:
http://singrandohorizontes.blogspot.com.br/2014/04/pedro-du-bois-navegando-nos-versos-3.html

IR E VIR

De onde viemos trouxemos
o primeiro ensinamento

a vir constante
na obrigação dos passos

envelhecemos em redonda
forma compulsória

o ir constante
em obrigações de passos

retornamos nos credos
que trouxemos

não renovamos ideias
na disposição respeitosa
                             e vazia.

(Pedro Du Bois, inédito)

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

FANTASMAS EM VERDADES

Vivos fantasmas
gargalham inverdades
de invenções dispostas
em arcos de travessia
dos enganos cometidos
na chamada livração
(livre ação) do poema
na retórica irretocável
das travessuras

fantasmas infantes
de intenções sérias
para casamentos
em cerimônias
entre linhas

num lado a verdade
encanecida da passagem
noutro lado fantasmas
adormecidos em certezas.

(Pedro Du Bois, inédito)

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

PRÓXIMOS

Os anos trarão regozijo
para não serem esquecidos
nas horas acalentadas
em calmas ondas
                     de sereias insossas

a bruma se abrirá lenta
em estames floridos
de remotos passados
nos risos e brincadeiras
das crianças sobre a grama
sintetizada em tapetes
e risos ecoarão em alto-falantes

a inscrição em fogo
coberta por ilustrações
ordinárias e baratas
de despropositados avisos
convidará para o baile da saudade

os ingressos serão gratuitos.

(Pedro Du Bois, inédito)

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Estudo Geral

3 poemas, em:
http://luis-eg.blogspot.com.br/2014/09/tres-poemas-pedro-du-bois.html

REPETIR

                             repito o fato
                                       o fado
                                       o enfado
                                       o fardo

pesos subjugam o corpo
em cansaço imediato
como percebido

                    em fracos espasmos
                    de vontade repetida

          em fatos
               fados
               fardos
           enfado

(Pedro Du Bois, inédito)

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

A VOZ DO POVO

A imprecisão
           exata palavra
           mãe dos desvarios
           madrasta inconclusa
                   de brilhantes ideias

ser e não ser: estado e não estado
do momento difuso em que mortes
(não) acontecem por acaso. Fortuíta
maneira de se ausentar no corpo
apresentado ao imaculado coração
fluído em apostas de ocos santos

impreciso discurso que alvoroça e tisna
a multidão afastada em murmúrios
imprecisos: a voz do povo.

(Pedro Du Bois, inédito)

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

OUSAR


o primeiro
da primeira geração
saiu e sufocou
o segundo ficou
o terceiro ousou
                sair e não voltar
 o corvo indiferente
ao pedido feito
 o pombo
indiferente ao horizonte
 o terceiro
diferente dos anteriores

ao quarto coube decidir ficar
ou ousar a morte
não comprovada
do terceiro.

(Pedro Du Bois, em A CASA DAS GAIOLAS, Edição do Autor, 2ª, 2005)

sábado, 6 de setembro de 2014

PRIMEIRO DIA


1


Primeiro sentido no barulho do corpo na água
com a suavidade do linho. Papel transformado
em barco. Quedas invertem o movimento
dos mares e as marés declinantes, Sentimento
conduzido por salas escuras de entretelas: rebrilha
a vontade de ir embora. Através da porta ouve a voz
em chamado: está chegando. Não indo embora
na vontade espúria dos contatos. Na sala vê
o papel retirado. Sua morte selada
recebe a negativa: está salvo.

(Pedro Du Bois, em A DIFERENÇA ENTRE OS DIAS, Edição do Autor, 2006)

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

JOÃO BEZ BATTI


Na pedra a coloração
inercial do universo
(maneiras diversas
dos olhares: sangue
não coagulado da donzela
oferecida ao sacrifício
de estar viva: indomada)

raspa a entranha e a delimita
no estrito dever de ser pedra

apedreja a mão que a escala
em réguas: as réguas libertam
o veio indelével dos amanhãs

cores se fazem apresentáveis aos olhos
menores dos interlocutores: palavras
soam porosas em elogios - bastante.

(Pedro Du Bois, em O SENHOR DAS ESTÁTUAS, Editora Penalux, 2013)

terça-feira, 2 de setembro de 2014

PRESSUPOSTO

A igualdade é pressuposto
das  diferenças. Doentia
forma de desconhecimento. Arma
e arremesso. Corpo anteposto
ao dia anterior: juventude
e infância. Infâmia
concretada.

Iguais
em si mesmos almejam
o dia da chegada.

E ainda não
foram até a porta.

(Pedro Du Bois, em IGUAIS, Editora Projeto Passo Fundo, 2013)