quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

NADA

Velhas construções
e o badalar dos sinos
                   próximos

(pessoas se recolhem incólumes
 em mais um dia de passagem)

         estabeleço as regras
         e retenho na velocidade
         o corpo que se desloca

    a vila se fecha em sonhos
    de épocas anteriores: pássaros
                     adormecidos em árvores.

Estabeleço as regras
            e as deposito
            sobre o nada.

(Pedro Du Bois, inédito)

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

HISTÓRIAS

Repito da história
os sons: inaudíveis palavras
ditas em mentiras oficializadas

sons reproduzidos sobre cadáveres
espalhados pelo campo de batalha

mortalhas expostas ao relento

desprezo na história a fatuidade
         e descarrego do passado
suas atormentadas fases

da história desprezo o véu
e desenho seu rosto originário
no início da batalha.

(Pedro Du Bois, inédito)

sábado, 23 de fevereiro de 2013

LONGE

Sou o longe no aperto de mão não acontecido
no desmando desnorteado da vida na curta
distância da ilusão amadurecida
no que me sustento - sua imagem
permanece nas imagens que vivificam
o instante da despedida - e onde
recebo o impacto das quedas.

Caio sobre o mistério do piso molhado
na pedra polida. No contato recebo
o longe em que me vejo perto: parto
em águas no grito da sobrevida

         (vida ao relento).

Em alentos alongo a sombra
no instante anterior ao ócio
em que desprendo o corpo
onde me escalo - instalo
a vida em regresso

         (de onde não saio).

(Pedro Du Bois, inédito)

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

SILÊNCIO

não há quem converse
que a rua fechada
escurece a hora
do recolhimento

onde estão as respostas
do ano findo?

onde faço do futuro
a ponte inferior
das respostas?

debruçado sobre a amurada
aterriso o corpo no desgosto
da rua fechada: não me responde
o escuro sobre a descendência
vinda no sabor do calor
que me desmancha

sei do horror que se aproxima
em lágrimas de chuva

(Pedro Du Bois, inédito)

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

ESCREVER

Sobre o que escrevo a terra liberta
o texto indigesto e acrobático. Conheço
no espaço a treva na extensão afoita
das respostas - amanhã será a véspera
da repetição. A inocência em olhos
sobrestados no contínuo linguajar:
                    a estrada em acordes de sentenças
                    que no dizer o gesto contemporiza
                    a estátua imobilizada ao talhe. Escrevo
                                o detalhe afirmado em sugestão
                                                                      e ordem.

(Pedro Du Bois, inédito)

domingo, 17 de fevereiro de 2013

FACES

Sob a face
há outra face
e outra face
se sucede
na face
anterior

todas as faces olham
o mesmo lado

todos os lados
estão do lado de fora

sobre a primeira face
irreconhecível
se sustentam faces
sucessivas

você me vê na face
externa de onde olha
minha face infinita.

(Pedro Du Bois, inédito)

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

ONDAS

O absurdo nos consome
em rotinas que a retina
avista como verdade

(ondas descansam suas águas
 sobre a praia que as suporta
 no todo e delas se alimenta)

o absurdo consome a praia
em ondas onde estariam os deuses
menores daquela hora.

(Pedro Du Bois, inédito)

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

DESPEDIDA

Na despedida rememoro o fato
                                           feito
                                           feto
                                          afeto
                         afetuoso abraço

os olhos captam
o silêncio

a luz se apaga
             afaga
             afugenta o instante

             parece ser o momento
             do reencontro.

(Pedro Du Bois, inédito)


segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

ANSIEDADE

Tenho a tensão da espera: ânsia
                              e angústia

(frio repentino
 pela porta fechada
 pela janela entreaberta
 pelo telhado que cobre
               a minha cabeça)

o tempo desnecessário
da espera me faz
louco corpo
descompassado: o suor
escorre e as mãos trêmulas
acompanham os nervos
estirados no contorno

(o calor dos amantes divididos
 em pares de conquistas na sensação
 de estarem perdidos no vazio do dia).

(Pedro Du Bois, inédito)

sábado, 9 de fevereiro de 2013

PODER

Posso ser o símbolo aberto ao franco
favorito   Podem os tambores tocar
glórias em rufares   Podem  mas não puderam
do passado retirar o esforço concentrado
no todo destampado  Posso ser o uníssono
cantar das alegorias   Podem as algaravias
fazer sentido   Podem  mas não puderam
retirar do crital a luz não lapidada
   Posso ser o ouvido alerta ao grito
da sereia   Podem jogar as pétalas das rosas
sobre os caminhos   Podem  mas não puderam
exercitar no homem o soldado
                                no arbusto
a floresta desencantada   Posso
ser a espera douradoura entre sonhos
   Podem alinhavar o termo inexistente
   Podem  mas não puderam se livrar da raça
incomum dos cães desenvolvidos
                                   e no outono
retirar da árvore a folha dos estertores.

(Pedro Du Bois, inédito)
          

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

GUERRAS

Embarro os sapatos
transitados sobre a terra

enterro meus mortos
e os esqueço
ante novas mortes

não são meus sapatos
testemunhas
efêmeras dos contatos

não são meus passos
a fuga da condição humana

no esquecer reside o retorno
em novas mortes

nos sapatos embarrados
as provas indesejadas
dos mortos sob a terra.

(Pedro Du Bois, inédito)

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

IMAGENS

O menino oferece
sua face ao espelho:
              a lâmina envidraçada
              embaça

a visão do outro lado
arrepia o instante
        usurpa o instante
        conflita o tanto
        a ser visto

o espelho rouba o encanto
ao menino: mostra a face
avessa ao mundo: aconselha
a antecipação do cansaço

a luz se apaga no espelho
e o menino zera a contagem:

             ao espelho cabe azares
             deduzidos na imagem
                              do menino.

(Pedro Du Bois, inédito)

domingo, 3 de fevereiro de 2013

SOLIDÃO

Ser na solidão o vazio
(na inexistência o âmago
 amargurado da não presença)
inesgotável em justificativas
(não ser
        não estar
              não acontecer)
na negativa da existência do som
inoculado no medo dos destinos
(se me faço ausência sobrevivo
 ao elemento de cortante morte)
interentes aos presentes e juntos
festejados em alto-falantes
(na morte apodreço o corpo
 indivisível na mente decomposta)
em festas populares: tenho o nome
anunciado finalista do torneio
 de tiro ao alvo estanque das barracas
(refaço esforços condensados em vidas
 e me escondo em túneis atravessados)
iluminadas na festa ao me ter sozinho
no vazio estupidificado da saudade.

(Pedro Du Bois, inédito)

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

PERMANECER

Ao agrado do poeta registro notas
esparsas em espaços inexistentes

dou coerência ao simples arremesso
em que o inseto se projeta:

              da garrafa retiro o néctar
              com que defino os sonhos

aos deuses concedo a hora da dança
e o compasso estelar dos reencontros
na profusão etérea dos amores

desvendo segredos antes acontençam
no irradiar o silêncio primordial
da espécie doada em gritos

      embora sejam tardes as horas
      resgato das notas a essência
      inexistente na palavra:

                        permanência.

(Pedro D}u Bois, inédito)