sexta-feira, 31 de maio de 2013

ASAS

Eis
a morte
em vampirescas asas
rastejantes

a ninguém cabe a tristeza
do desencontro no ir embora

adversativos entre meios
que os meses trazem de volta

pequenos mosquitos
e seus barulhos

na morte
em imensas asas
sobre nós.

(Pedro Du Bois, inédito)

quarta-feira, 29 de maio de 2013

OUTRO

Enclave onde defendo minha criação
espaço fechado ao alcance das mãos
sou bronze e ferro corroídos
nas emoções que trago

a desforra na hora de fechar a porta
dispostas
           as mãos escutam o entrave
           sabem do escuro e no debate
           das ideias esvoaçam
                            fomes represadas

fujo e o espaço traz a pergunta
com que alimento respostas
              na flor existente
              em minha consciência

bobagem
          penso
          ante a mão do carrasco
          este mundo
                          enclave
                          é mera música
          onsciente que do outro lado
          dentro
                  os sinos são pálidos.

(Pedro Du Bois, inédito

segunda-feira, 27 de maio de 2013

NÃO É DEZEMBRO

Atravesso a rua
cordas ressonantes
elevam sons primários

     ouço na chegada
     não os tinha
                 sob águas

águias em voos certeiros
decepam corpos
       (bicos e garras
        no sobrevoo)

atravesso a vida
em ruas tortuosas

- ainda não é dezembro.

(Pedro Du Bois, inédito)

ps: não sei o que teria acontecido
      para que eu tivesse digitado "desembro"
     duas vezes. desculpo-me.

MOMENTOS

O som da terra em movimento
assusta os humanos

que param em espanto

o tom da terra quando se movimenta
aterroriza as vistas

que se fecham em espanto

não entendem a linguagem
                       dos movimentos

imóveis permanecem na queda
em que só os gritos se movem

quando é tarde.

(Pedro Du Bois, inédito)


quinta-feira, 23 de maio de 2013

DESGASTE

Quando o desgaste
mostra o esforço
perdido
na jogada
errada
erra o sentido
com que a vida
é substituída
por símbolos
estáticos

o corpo inicia a luta
por sua substituição
no reforço do esforço
e no descanso requerido

agastado
o tempo sente o final
encerrado na forma
em que se controla

cede o espaço na sequência
em que se encerra.

(Pedro Du Bois, inédito)

terça-feira, 21 de maio de 2013

ELEMENTOS

sensíveis aos elementos
lamentos inviabilizam a raiva

o progresso: a pedra jogada
cobra o esforço do sucesso

transformados em elementos
domesticados
                  serviços se desdobram
                  em recados intraduzíveis

o barulho traduzido em vida
na morte é mesmice: sinos
desdobram avisos
      de fúnebres lágrimas
                     e tristeza

transformada em elemento
a permanência não identifica
no regresso o que a memória
                                    esquece.

(Pedro Du Bois, inédito)

PÚBLICA FORMA

A viatura policial
junto ao meio-fio

o policial usa
o telefone público
sobre a calçada

a vida segue
na direção em que estamos
presos desde sempre

não me pergunto sobre conversas
e o policial encerra seu telefonema

pública forma onde
se mostram as tristezas.

(Pedro Du Bois, inédito)

sexta-feira, 17 de maio de 2013

SONO

Dorme seu sono: justo
é o tempo desacordado

tem seu mundo de volta
e sorri a tristeza de acordar
na injusta hora da realidade

no extremo a vigília acumula
seu cérebro e as informações
confundem entre o sono
e o sonho: no ímpeto
desperta - dormindo
o pouco permitido

é justa a hora em que acorda
e tem de volta a sua vida.

(Pedro Du Bois, inédito)

ESTRAGAR

               A ideia estagnada na vidraça.
Não chego lá fora para dizer da chegada
                                         e dos projetos

               fico no cômodo: a casa ampla
em que me escondo. Palavras não ditas.

Escaladas as estantes guardam frases sem contexto.
Borboletas em suas cores esvoaçam.

Tenho o ruim da doença: verdade guardada
por muito tempo. A vida estagnada muda
em vicissitudes e o carrasco carrega a culpa
pela sentença. O jugo com que o poder
me faz preso no medo de sair à rua.

                     Busco no escuro a história
incômoda das mortes que nos trouxeram
até esta data: a efeméride e os ovos
                                          da serpente.

(Pedro Du Bois, inédito)


          

segunda-feira, 13 de maio de 2013

DISTÂNCIA

Tanto se distancia
longe dos fatos nos risos
e dúvidas com que convive

longe perde o caminho
do sentido guardado
no que escreve

na volta o retorno
se faz impossível

quer estar perto
sobre o corpo conhecido
em seu calor e sorte

tanta distância no conceito
de que o concerto não traz
a música e o lamento
não é escutado.

(Pedro Du Bois, inédito)

sábado, 11 de maio de 2013

ARDER

Quero o retorno
no beijo
que se faz quente

olho seu corpo
reconheço-me
como parceiro

arde

no toque
sobreposto
à vista

ardo

na explosão
em que meteoro
passo.

(Pedro Du Bois, inédito)

LUGARES

Estou em todos os pontos
onde passo meus olhos abertos
e ouço das conversas o restante

            que ainda há
            na humanidade
            o cumprimento
            e o prazer em me ver passar

nos lugares longe as vozes
se fazem baixas
               em calmas palavras
se fazem baixas
               em alvas palavras
nos lugares além
               a vida se faz alta
               em amorosas palavras

em peregrinação contenho meus passos
                      ao largo
                      ao lado
                           onde estão vocês

sou recebido
        aplaudido
          apalpado
            alimentado
             perguntado
               deixado ir

volto consciente da humanidade existente
nos lugares onde o futuro (ainda) estará.

(Pedro Du Bois, inédito)


terça-feira, 7 de maio de 2013

PERIGO

O perigo reside
no final
das contas

no troco
e no pagamento
pelos serviços

na gorjeta
ao manobrista

no ir embora.

(Pedro Du Bois, inédito)

VIAGEM

Vista de cima a árvore abarca
o armado barco em madeiras atravessado

do alto a árvore nega os galhos
e o tronco cede ao serrote

vista pelo alto a árvore se espalha
sobre o barco na viagem entre galhos.

(Pedro Du Bois, inédito)

REMÉDIO

Tem o passado em cada drágea
consumida religiosamente

no amparo
no remédio
no tédio expressado
              pelo sorriso ausente

o corpo sente o cansaço
suas dores reaparecem

       além dos comprimidos
       tomados em cada dia
                            religiosamente

o passado cerca
               acerca-se
               toma de suas mãos os frasco
               com que alivia o fracasso
                                        desde o começo.

(Pedro Du Bois, inédito)