quinta-feira, 29 de novembro de 2012

QUERERES

Querer da vida o filho
negado na reconstrução

querer a promessa estéril
da permanência

do filho: a negação
primeira da escolha

querer da vida o definitivo
escopo elevado ao direito
da seriedade

querer a mesa no difícil almoço
da sobrevivência: a hora
na permanência
do quanto somos
                 aguardados

querer a volta do filho
prodigalizado em vidas
adultas de regressos.

(Pedro Du Bois, inédito)

terça-feira, 27 de novembro de 2012

DESCOBERTAS

Descobertos
    fósseis decifram
caminhos: carinho inexistente
no consciente ganho médio
medido em cavernas
             onde encontrados ossos
             familiares e animalescos

recobertos
     fósseis humanos
reportam ao espaço onde homens
- iguais em genética - passam fome:

             inconscientes e transparentes
             na perda diária das distâncias.

(Pedro Du Bois, inédito)

domingo, 25 de novembro de 2012

OCASO E NOME

No ocaso do nome repetido
no refrão da música traduzida
no avesso do sentido entrevisto
na delicadeza do carrasco
perguntando entre grades
aos guardados homens
de condenações diversas
na diversidade dos nomes

não o nome do escolhido
para o sacrifício: o ocaso
do nome no tirar o corpo
ao consagrado gesto
das mortes anunciadas

o ocaso precede o nome
no batismo inominável
do trajeto onde permanece
até o carrasco perguntar
com delicadeza apropriada
o nome carregado

do nome o caso retira o gosto
e a propriedade em se dizer
presente: mente ao carrasco
o nome aposto e no ocaso
se encerra inominado.

(Pedro Du Bois, inédito)

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

TOSCO

Tosco espírito
amaldiçoado no personagem:
           sob o manto semeia
                                tempestades.

Ressoam avisos
inconclusos: a escuridão
esconde a face.

A forma imprecisa do espírito
na descorporificada imagem.

Na sobra
      na dobra
      onde se esconde o tosco
      na reafirmação do mistério.

(Pedro Du Bois, inédito)

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

AMAR

O verão próximo
                   quente
              e úmido

umidade transportada ao pólen
da flor esquematizada: cripto
corpo oferecido aos deuses

     o verão: aproximo os olhos
     da janela e percebo o calor
     abrasivo da passagem

unidade comportada dos amares
esquematizados em flores colhidas
na paisagem.

(Pedro Du Bois, inédito)

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

APATIA

Apática criatura endurecida em barro.
Sobre sua hora são feitas as partes
das saídas: no horizonte anterior
da ultrapassagem sua vontade
escorre o fel de viver em textos
apresentados em retalhos:

sobre a apática criatura refulgem dias
descontados aos deuses perfilados
em homenagem e seus nomes contém
a essência do conhecido no mundo
ilusório em sentidos

ouço sua apatia
   criatura inerte
         no tamborilar dos dedos
         no arrastar da cadeira
         na tosse de reconhecimento

apática criatura desprovida da curiosidade
atávica dos elementos. Barro refeito em
deformações: o saber da inutilidade
nas respostas e o descalabro da busca.

(Pedro Du Bois, inédito)

sábado, 17 de novembro de 2012

JARDIM

No jardim inexistente
desenho flores ilusórias

deixo-me ficar sob
a sombra das horas

pássaros inconsequentes
esvoaçam meus sentidos

seus gritos realizam
minha devolução ao concreto.

(Pedro Du Bois, inédito)

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

GRITO

Escuto gritos: crianças
brincam. Gritos são
mensagens de descobertas.

Não há grito na voz que clama
pela minha juventude. Calado
tempo em erros. Arbítrio
em canto de despedida.

Diferenças opostas aos gestos
guardo o grito da mocidade:
            preso no irrisório destino
            afeito ao progresso rejeito
            o som enclausurado
                       dos contratos.

Das crianças mantenho a vontade
em aceitar a ruptura induzida
                nos gritos de liberdade.

(Pedro Du Bois, inédito)

terça-feira, 13 de novembro de 2012

NOME

Sou pedra aposta ao nome
áspero ser gentil
de outono
sério arlequim atravessado
em sonos
ínfima parte decomposta
em tombo
remanescente palavra esquecida
ao instante

carrego o nome apropriado
no caminhar disposto
sobre esta terra:
vias terciárias e o fragor
do vento rola a esfera
enquadrada no átimo
da sobrevivência

externo sentimento recolhido no óbice
trânsfuga da espera realizada em antes
tal pedras afloradas no tanto
das descobertas.

(Pedro Du Bois, inédito)

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

VIA RÁPIDA


Com alegria, informo que amanhã, dia 10.11, às 16 horas,
estarei lançando meu novo livro, VIA RÁPIDA, na 26ª
Feira do Livro de Passo Fundo:

Ilustrações de Eduardo e Layla Barbosa.
Capa com fragmento de obra de Silvana Oliveira,
Contra-capa de Marco Antônio Damian,
Prefácio de Paulo Monteiro,
Posfácio de Geraldo Fernandes,
4a. capa de Gilberto da Cunha.







segunda-feira, 5 de novembro de 2012

SAIR

De onde saem as razões
do que está escrito:
            sob lençóis repassam
            corpos no despreparo
            do sexo carcomido
            em lamentos impuros

falsa novela
escrita em termos inférteis
onde pássaros se incluem
como crianças:
      sob o brandir das armas
      apagadas luzes civilizatórias
      em propagandas enganam
      dizeres de avessos sabores

na irracionalidade da música
guerreira dos aborígenes:
             sob o rochedo a terra
             se oferta aos espíritos
             em extremos amorosos.

(Pedro Du Bois, inédito)

sábado, 3 de novembro de 2012

ODISSEIA

Pode ter sua odisseia: repetir
caminhos demonstrados em reportagens
aleatórias de marés não navegadas,
a velha senhora sem humor, o homem
desagregado em razões. Nas mãos
os pães do entendimento, a bebida
entorpecente dos enamorados. O final
feliz da história reescrita: repetir
os versos do poeta sepultado
no mar das ocorrências.

Situado no epicentro da hora
submetida à morte dos sonhos
nos versos recolhidos ao acaso.

Não a odisseia em comentários vazios
nas corridas ao longo do prazo.

Repetido na simplicidade das situações
famosas a odisseia resume os saltos
em que as alturas adormecem o físico
e barreiras são ultrapassadas em medo.

Pode ser a odisseia em metros
percorridos em busca de trabalho.

(Pedro Du Bois, inédito)

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

CANSAÇO

Sou o cansaço
no fundo da consciência

começo a conversa
e retiro a continuação da memória

a desorientação na remessa
ao fundo da consciência

reinicio a conversa
e guardo as palavras

sobre palavras: fecho os olhos
identifico o lugar
                a hora
a angústia da lembrança

no desenlace ocorrido
ao nada refeito
         do cansaço.

(Pedro Du Bois, inédito)