terça-feira, 30 de outubro de 2012

DESCOBRIR

Ter do espírito aventureiro de outrora
a ousadia de voltar ao ponto de partida

sem anúncios publicitários
reportagens em revistas
manchetes em jornais
locutores no noticiário

retornar: simplesmente sentar
à beira d'água e jogar a rede

recolher na rede trançada
                           em nadas
       a ilusão da descoberta.

(Pedro Du Bois, inédito)

domingo, 28 de outubro de 2012

MARINA

A filha reflete a proximidade: pessoa
              definida desde o nascimento
                     traz seus pais em gestos.

              Contorna na criação o esforço
              e traduz em atos sua liberdade.

              Contém a diversão de quem sabe
              ser a temeridade aliviada das tensões.

                      Reflexo do amor: reflete.

(Pedro Du Bois, inédito)


                      

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

LUÍSA

A pouca idade incentiva a descoberta: mãos
suavizam cordas. O corpo se oferece à água.

Em crescimento adota curiosidades. O previsível
desenha enlaces: age no acordar da coerência.

Olhos afixados em interesses: sabe ser constante.

(Pedro Du Bois, inédito)


quarta-feira, 24 de outubro de 2012

JÚLIA

         Esguio corpo em crescimento. O sorriso
    presente. Movimentos. Sua argúcia convence
    o interlocutor em danças: baila salões.

          Nada se opõe: nem águas aprofundam
     diferenças. A voz acrescenta o sentido
     das pontes na construção do futuro.

(Pedro Du Bois, inédito)

terça-feira, 23 de outubro de 2012

BREVE ILUSTRAÇÃO SOBRE O (MEU) SENTIMENTO

Fazemos sexo durante o tanto
em que estamos juntos. Olhos nos olhos
nos penetramos. Nossas mãos
seguram a cama.

Somos um e únicos.

Tenho você comigo
na imagem indelével
do passado. Estou
permanentemente em você:
esboço e traço sob a pele.

(Pedro Du Bois, Brevidades, 53; Editora Projeto Passo Fundo, 2012)

domingo, 21 de outubro de 2012

BREVE RELATO SOBRE A (MINHA) NATUREZA

Conhecida na origem
a preocupação se mantém
no estilo
de vida: naturalmente
compelido ao trabalho
salto o adestramento.

Venho como elemento ativo no processo.
Sou ponto e vírgula e descaminhos
tramados na linguagem: significado.

(Pedro Du Bois, Brevidades, 43; Editora Projeto Passo Fundo, 2012)

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

BREVE APANHADO SOBRE A (MINHA) LUCIDEZ

Permito-me a lucidez: vejo a árvore e os frutos;
desfaço a cama e guardo as cobertas. Visto na roupa
a imagem trazida no regresso. Da casa retenho
a tinta das paredes; nos vidros da janela vejo
a poeira acumulada. Recorro à figura armazenada
e retiro a essência. A lucidez me repete
fatos intercalados.

Invado o lúdico e me deparo com a reserva
ao conhecimento. Cumprimento a sombra
do que sou e deixo arrolado o tanto procurado.

A lucidez contém luzes enfeitiçadas de verdades.
A lucidez é meu cansaço.

(Pedro Du Bois, Brevidades, 1; Editora Projeto Passo Fundo, 2012)

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

REPETIÇÕES

Repito passos sobrepostos
ao inibir o inimigo sobre a revolta

reavisto a mata
     em sua cobertura verde
     da pradaria na solidão das flores
     e águas descendo em riachos

revolvo na terra
pedras na cristalização
do magma transposto aos ares

reparto o espaço inicial da imagem
e me sei parte atômica das lágrimas.

(Pedro Du Bois, inédito)

sábado, 6 de outubro de 2012

NOMES

Ávido em retornos
   o homem
   sem nome colocado
   chama a si mesmo
   pelo nome aposto
                em vontade

ser oriundo para onde vai
em passos de retorno

      tem o nome carregado
      na voz com que repete
      o som da lembrança.

(Pedro Du Bois, inédito)

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

ESQUECER

Reviso o vício
subtraio o tempo
divido a dose
     inicial dos dias

a noite
se faz longe.

(Pedro Du Bois, inédito)

terça-feira, 2 de outubro de 2012

OUVIR

Na canção
choro mágoas
desconsideradas

que na música repetem
refrões estéticos
de esquecimentos

no final do canto
o tempo inerente
desfia razões ultrapassadas

ao canto ilusório
do passado e me afasto
                  em silêncio.

(Pedro Du Bois, inédito)