quarta-feira, 30 de novembro de 2011

IRREFLETIDO/IRREFLECTIT - o poema e sua versão

IRREFLETIDO



Não me reflito

ao cobrir o vidro

com espelhos

metalizo a vontade

inaudita de ser visto

resisto ao espaço

e cedo o corpo

em sacrifício.

Opaco: embaço

a vista.



(Pedro Du Bois, inédito)



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IRREFLECTIT



No em reflectisc

en cobrir el vidre

amb espills

metal·litze la voluntat

inaudita de ser vist

resistisc a l'espai

i cedisc el cos

em sacrifíci.

Opac: entele

la vista.


(Versão para o catalão, gentileza do poeta Pere Bessó i Gonzáles;

http://perebesso.blogspot.com)

terça-feira, 29 de novembro de 2011

EM BRANCO

Apago na folha a confissão inodora
do planeta: azul, disse o astronauta,
e no espaço espalho dizeres
inconsistentes - discursos alheios
à paz exterior dos corpos - confiados
aos segredos. Avio a receita e descubro
doenças no corpo disposto ao leito: dói
em doenças inerentes aos amantes.

A folha em branco é morte sobredita
em vírgula desconsiderada, altares
opostos aos deuses em dizeres
transeuntes: ao povo incrédulo
cabem preces e seguir adiante
sem hora para o regresso: estanque
predito como espera e esperança.

Reescrevo o texto exemplificando
a cólera dos passantes: palavras
sobrepostas (antepostas) no coro
da tristeza. Leio o escrito ao povo
do lugar no silêncio solerte do cansaço.

(Pedro Du Bois, inédito)

domingo, 27 de novembro de 2011

ESPERA

O que espera: o horário oficial
dita passos apressados
no trabalho
o intervalo estressado
em conversas
ocas

desespera o dia perdido
em casa e anseia o recomeço

na luz esparramada
acorda: a voz oficial
determina o projeto
inconsumível
em todos os dias.

(Pedro Du Bois, inédito)

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

EPOPEIA

Na jornada
épica do descobrimento
              (duplo desencanto)

         da terra finita
         e do escorbuto
         dos tiros trovejados
         e dos animais silvestres
         dos homens sanguinários
         e dos aborígenes reencontrados

encoberta história sob o manto
do desenvolvimento: a mentira recontada
como epopeia reflete sombrias figuras
desproporcionais aos feitos: o metal
temporiza o afã com que as pedras
circulam em jóias menores.

(Pedro Du Bois, inédito)

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

MARGENS

Entre margens, coragem, esforço,
desforço, razões exatas, leito,
corpo desfeito em lágrimas

o amor amplificado em gostos
de primeiras carícias. Estrada
percorrida no que é contado

história recontada de outra margem
acima, ao lado, abaixo, a pedra
no caminho, águas lentas, a frieza
dos amores terminam: acabam

na marginalidade do ocaso, o nome
citado exemplo. O bom exemplar
da música ao longe, tambores, oboés,
o violino marginaliza o estrondo
dos canhões destruídos em finais.

(Pedro Du Bois, inédito)

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

COLEGIAL

Abraços
      e beijos                   juras eternas
                                     de amizade e paixão

caderno preenchido em sonhos
o primeiro porre embebedado
na angústia de nos fazermos
estéreis vidas: aceno ajuizado
na incerteza de sermos os mesmos
no passar dos anos

instantes
na falta de memória
 na falta de contato
  na falta de afinidade: no tempo
  justo da igualdade nos tornamos
  diversos em caminhos opostos
                               paralelos
                        confluentes

no olhar antes da porta aberta.

(Pedro Du Bois, inédito)

sábado, 19 de novembro de 2011

AGUARDAR

Não aguardo
a mudança oficial
das regras
       arremeto o verbo
       em destempero
       e não me guardo
       como profeta
       ascético
       ou eremita absorto
                         sobre a pedra

                         estou além do vento
                         e retiro
                         o corpo em constante
                         atraso

    oficialmente me desconheço
    e a lei aproximada
    conduz o texto
    em recesso.

(Pedro Du Bois, inédito)

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

CENTRO

Sendo o centro
           sofre com as modificações
           menores: raça submetida
           ao cansaço do trabalho diário,
           espaço invadido por insetos
           vários, o melhor pedaço consumido
           pelo inimigo, vontade insaciável
           de ser presente, a súbita morte.

No que se transforma, perde a identidade
caótica de ser humano: desconhece
a dimensão arbitrária onde se encontra.

Sendo o centro, não percebe as bordas
e vaga o vazio onde se incomoda.

Sobre o universo pairam dúvidas
de acobertamentos: o centro
se distancia em tempos aproximados.

(Pedro Du Bois, inédito)

terça-feira, 15 de novembro de 2011

DOR

Não faço da dor
                     tema
        tremo suplícios

conheço do carrasco
a mão: látego
sobre as costas
lanha a pele

            o couro guarda
            a imprecisão do autor

dói como saudade
                sangrenta no início
dói como silêncio
                impossível no gemido
dói como terra
                na descoberta

o tema esvai o corpo
ao relento. E basta.

(Pedro Du Bois, inédito)

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Progresso/Progrés: duas versões para o mesmo poema

PROGRESSO

Ser a madrugada
do tempo
anoitecido: barbarizar
o desconhecimento
em novas ciências
cientificar
a desnecessidade
de estar vivo
ser a divulgação do próximo
desacontecimento e se apresentar
na plenitude com que o regresso
traz o medo.

(Pedro Du Bois, inédito)
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PROGRÉS
 
Ser la matinada
del temps
fet nit: barbaritzar
el desconeixement
em noves ciències
cientificar
la innecessarietat
de ser viu
ser la divulgació del proper
desesdeveniment i presentar-se
en la plenitud com que el regrés
du la por.
 
(Versão para o catalão, gentileza do poeta  Pere Bessó i Gonzáles;
 http://perebesso.blogspot.com)

domingo, 13 de novembro de 2011

PROIBIDO

Respondo ao gesto
toco seu corpo
com os olhos
             olho o detalhe do decote
             corto a fração permitida

antes mude o cenário
passo entre o nada
e contemplo o permitido

                       permito o gesto
                       na afeição
                       ao fato proibido.

(Pedro Du Bois, inédito)

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

FOME

Prova a comida, sente no gosto
o retorno onde a fome se alimenta
das lembranças; passos apressados
adjetivam a ânsia pelo reencontro

prova na comida a maneira
gentil de ser alçado ao fundo
da inconsequência; faz sentido
estar alimentado em murmúrios

repele o prato colocado ao centro
e aguarda, outro dia aceitará o mérito
descozido dos aplausos e saciará
a fome anterior do reconhecimento.

(Pedro Du Bois, inédito)

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

CORPO E ESPÍRITO

No âmago
o espírito
nega o corpo

desfaz o sentido
repousado da calma
e o transforma
na minúcia
dos dias

no extremo
o corpo
nega o espírito

refaz o caminho materializado
e se consome em dúvidas
ao largo do processo

o espírito
repete o corpo
e termina.

(Pedro Du Bois, inédito)

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

QUANDO

Quando chegar a forma
inconsútil dos horários estará
junto ao barulho dos pássaros
soltos em gaiolas de horizontes:

        matéria prima utilizada
        no sempre da necessidade

de fora assiste
a luta internalizada dos profetas
a desdizerem passados

              escurecerem
futuros desagregados em ascetas

deforma o tempo e embaça
a voz difusa da visão menor:

        entorna o líquido
        sobre os passos
        e salga a terra

     a matéria utiliza o tempo
     em reformas e das previsões
     ressoam músicas antepassadas
     no barulho incessante
     do que permanece.

(Pedro Du Bois, inédito)

sábado, 5 de novembro de 2011

TRAÇO

No esforço
esboço o traço
descrevo em desenhos
arcos
parabólicos de descobertas

entendimento sobreposto ao vento
veto
   vetor
      vasto descobrir
      em desenhos anunciados
      no esforço com que o traço
      se completa sobre a folha

arcos
 ascos
  desespero sobreposto ao veto
  na revelação do sofrimento
                       do traço
                       esboçado
                       ao todo: papel
                       disposto sobre a mesa.

(Pedro Du Bois, inédito)

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

SEPARAR

O fundo do quintal em árvores
infrutíferas: cardo, travo, a treva
da passagem bloqueia a hora
iluminada do caminho. O muro
separa propriedades e instala a diferença
fronteiriça da discórdia: elemento
da conquista exposto em pedras
empilhadas. O domínio da salvaguarda
e a extensão do ódio reprimido:
pegar a pedra e colocar sobre
a pedra anterior ao fechar a vista,
revoltar os olhos aos poentes
apagados em convivências. Do fundo
do quintal até a casa residem ideias
absurdas de tormentas: sobre a pedra
os olhos do menino contemplam
o mundo imaginário da vaidade.

(Pedro Du Bois, inédito)

terça-feira, 1 de novembro de 2011

DESPROPÓSITO

Ao despropósito
das pedras preciosas:

raras jóias
deslumbradas
em noivos

- estar junto ao evento
  no portar da hora: jóias
  irreais posicionadas
  ao acaso -

     raras jóias
     em noivos
     deslumbrados

pedras preciosas
são o despropósito.

(Pedro Du Bois, inédito)